sexta-feira, 18 de junho de 2010

JOSÉ SARAMAGO


Morreu hoje, em Lanzarote, aos 87 anos, o escritor José Saramago, Prémio Nobel da Literatura em 1998.

Conheci José Saramago há mais de 40 anos (quando este vivia com Isabel da Nóbrega), no atelier do escultor Lagoa Henriques. Convivi com ele vários anos, visitei-o na sua casa da rua da Esperança (ele já estava, na altura, separado da primeira mulher Ilda Reis) e ele e a Isabel visitaram-me em minha casa. Depois a vida, mais a dele do que a minha, afastaram-nos. Saramago, após alguma acção política partidária, mergulhou definitivamente na escrita e apaixonou-se por Pilar del Rio. Como normalmente acontece nestes casos, os amigos repartiram-se. Uns ficaram com a Isabel (o meu caso), outros adoptaram a Pilar. 

Não tendo formação académica, era Saramago um homem culto, embora muito teimoso e vaidoso, o que tornava por vezes difícil uma convivência aberta com ele. Mas foi incontestavelmente um grande escritor, que soube manter, contra ventos e marés, a coerência das suas posições na defesa daquilo a que habitualmente chamamos uma "sociedade mais justa". Comunista desde sempre, demarcou-se ocasionalmente do PCP quando discordou das posições deste partido. Com os anos, tornou-se menos dogmático e mais humanista, embora estivesse ainda distante de defender os chamados temas fracturantes, que estão ausentes da sua obra.

Reencontrei-o mais tarde, no movimento português que defende os direitos do povo palestiniano, de que sou dirigente e do qual ele era presidente da mesa da assembleia geral. Já doente e envelhecido, contudo sempre lúcido.

Publicou cerca de 50 livros, mas foi a partir de Levantado do Chão (1980) e de Memorial do Convento (1982) que se tornou um escritor nacional. Outras obras, como O Ano da Morte de Ricardo Reis, A Jangada de Pedra, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Ensaio Sobre a Cegueira e As Intermitências da Morte consagraram-no como um escritor universal. O Prémio Nobel da Literatura, o primeiro atribuído a um escritor português, aumentou-lhe a visibilidade mundial (e a conta bancária) mas nada acrescentou a uma obra que fala por si, independentemente dos louros de Estocolmo.

Como é de uso nestas ocasiões, direi que Portugal fica mais pobre. Realmente fica.

2 comentários:

Anónimo disse...

Figura por vezes controversa mas um grande escritor.

Há quem diga que era um escritor menor, como se lê em comentários noutros blogs mas são escritos normalmente por analfabetos.

Anónimo disse...

Diga-se de passagem que a sua iniciativa de apagar as dedicatórias a Isabel da Nóbrega nas novas edições de livros publicados quando da sua relação com a escritora, são sinal de uma mequinhez que não fica bem a uma grande figura. Por mim,gostei do "Ano da morte de Ricardo Reis"e da primeira metade da "Jangada de Pedra".Period. Mas ao contrário dos supostos "idiotas inúteis" que comento noutro post,não pretendo impor gostos a ninguem...