segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A PAZ QUE TARDA


O governo israelita, pela voz do ministro da Defesa Ehud Barak, anunciou hoje a construção de mais 366 colonatos na Cisjordânia, a que se acrescentarão outros 84 a indicar nos próximos dias. Esta decisão do governo de Netanyahu constitui um desafio ao projecto de paz para o Médio Oriente, concebido por Barack Obama e apoiado pela União Europeia. Não se vislumbra o que pretende o governo sionista nesta fuga para a frente, apesar das dificuldades que Obama começa a enfrentar no seu país, provocadas pelos interesses inconfessáveis (ou não) do establishment económico-financeiro dos Estados Unidos, largamente dominado pelo lobby judaico.

A paz na Palestina é condição sine qua non para a paz no Médio Oriente. E sem paz no Médio Oriente não haverá paz no mundo. É claro que as indústrias de armamento e as grandes empresas multinacionais têm interesse, todo o interesse, em que não haja paz. Mas Israel não beneficia de um estado de confrontação permanente, e sem uma solução equilibrada para o conflito israelo-árabe nunca alcançará a tranquilidade e segurança a que diz aspirar.

A Questão do Oriente - e, de modo mais particular, a Questão da Palestina - deve-se em larga medida à política colonialista britânica e à sua determinação em desmembrar o Império Otomano. Quem estudar a história do Médio Oriente nos últimos 200 anos encontrará sempre a mão dos ingleses directamente ou indirectamente, alguns até enganados, como o coronel Thomas Edward Lawrence. Mas isso são outros contos.

Porém, como não se pode reescrever a História (a não ser nos livros), é impossível voltar atrás. E assim resulta que a atitude do Estado de Israel, desde a sua criação em 1948, alargando sucessivamente o seu território em detrimento dos palestinianos, é prejudicial não só para os próprios israelitas mas para os judeus espalhados pelo mundo. Todos se recordam das perseguições nazis (e outras) aos judeus, mas em face da política prosseguida por Israel, surgem, um pouco por toda a parte, movimentos que se reclamam de Hitler e que lamentam não ter este concluído a sua missão, isto é, a conclusão da "solução final".

Deveria esta constatação ser bastante para que as autoridades sionistas tivessem o discernimento necessário quanto à urgência de se encontrar um acordo tão justo quanto possível face à situação actual. Mas o que se vê é precisamente o contrário e as autoridades israelitas chegam ao ponto de classificar como anti-semitas todos os que não seguem a cartilha de Sião. Pode o Estado de Israel ter a bomba atómica, a Mossad, milhões de dólares, o apoio dos EUA, homens inteligentes (mas nem sempre) que isso não chega para eliminar a Palestina do mapa.

E por falar em homens inteligentes lamenta-se que em Israel e fora dele só poucas vozes de judeus se ergam para criticar a política sionista. Houvesse um número bem mais elevado e as coisas já hoje seriam diferentes.

6 comentários:

Anónimo disse...

Convem que o ilustre autor reveja as dioptrias dos seus óculos(se acaso os usa). Que o P.M. israelita esteja a seguir uma política aparentemente absurda (em diplomacia há o que se vê e o que se não vê) estamos de acordo,e somos muitos,judeus e não judeus. Mas a utilização de clichés como o "Establishment económico e financeiro" dominado pelo "lobby judaico" inquinam toda a argumentação com linguagem ultrapassada e desadequada,para não dizer mais. Só o desconhecimento dos E.U.A. pode deixar supor que há um "establishment" organizado e monolítico. Há interesses republicanos e democráticos,os republicanos pretendem naturalmente sabotar o Obama, e os democráticos,quase todos, apoiá-lo. As dificuldades actuais vêm dos projectos sobre a saúde pública,com aumento de impostos,o que é sempre complicado,e nada tem a ver com lobbies judaicos. Há de facto mais coisas nos Estados Unidos do que as que que cabem na filosofia do autor do blog,para parafrasear um autor conhecido,e por acaso de língua inglesa... Tambem não há "um" lobby judaico,mas vários,e alguns bem opostos à política actual de Israel. A simplificação é a mãe de muitos vícios. Quanto ao desmembramento do Império Otomano,não se esqueça que ocorreu em seguimento da derrota da Turquia na I Guerra,em que teve a infeliz ideia de se aliar com os Impérios derrotados. Nesses tempos, como deve saber,as derrotas pagavam-se assim,por vezes com prejuizo para os vencedores,mas isso dava para comentários longos demais para este espaço.

Anónimo disse...

Excelente análise,continue a publicar e a denunciar a politica sionista

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

PARA O ANÓNIMO DAS 2:15:

Creio não ser uma questão de dioptrias mas de olhos. E o caro Anónimo vê a realidade com uns olhos diferentes dos meus.

É mais uma questão de formação do que de informação e na minha idade (e presumo que na sua) já não é fácil mudar de convicções.

Quanto ao facto de existirem coisas nos Estados Unidos que não cabem na minha filosofia estamos totalmente de acordo, e ainda bem!

Claro que há muitos e diferentes interesses nos EUA, mas a maioria deles converge no sentido (único) das suas conveniências particulares que são idênticas: o lucro, todo o lucro, nada mais do que o lucro. A qualquer preço. E sabe-se como o lobby judaico influencia tomadas de posição ainda que, por vezes, aparentemente divergentes.

Quanto ao desmembramento do Império Otomano, na sequência da sua derrota na Primeira Guerra Mundial, de há muito que os ingleses estavam à espreita da oportunidade e tudo prometeram então aos árabes para se unirem com vista à sua emancipação da suserania da Sublime Porta e consequente independência. Depois, foi o que se viu, e ainda vê.

Anónimo disse...

Como li o Popper em muito jovem,sempre as minhas convicções estiveram abertas a ser desmentidas ou alteradas pelas informações. Atendendo à relevância que têm os E.U.A. hoje e nos últimos decénios,desconhecer a sua realidade (e aparentemente com orgulho) é cometer um erro vital para qualquer tentativa de análise política internacional.Depois vêm distorções,simplificações,etc. que conduzem fatalmente a conclusões tambem elas distorcidas quando não injustas. Se há sociedade em que a consciência cívica mais se revele,é precisamente nos E.U.A.,com as suas inúmeras Fundações,scholarships,doações para museus,universidades, vida musical,clínicas,e podia prosseguir. Mas já se sabe que o pior cego,etc...
Quanto ao lamentado Império Otomano,há muito que se estava a desfazer,mesmo antes da fatídica decisão do Enver em alinhá-lo com os Impérios Centrais.Os territórios europeus já quase todos tinham "marchado" e o controle sobre os árabes era simbólico. Os ingleses e franceses aproveitaram o "bodo",dentro das regras da época. O anti-imperialismo,anti-colonialismo,e tal,como sabe,ainda não estava na moda.

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

PARA O ANÓNIMO DAS 16:25:

Registo a sua admiração pelos Estados Unidos mas lamento não poder partilhá-la consigo.

Esse país, com quase 300 milhões de habitantes, pode ter muitas fundações, universidades, museus, mas frequentados por uma minoria, uma elite, e mesmo assim de discutível consciência cívica. A maioria da população fica-se por uma clamorosa iliteracia, que apesar disso alcança lugares cimeiros, como o provou exemplarmente o anterior presidente Bush.

Todavia o meu post não é sobre os EUA (só referidos lateralmente) mas sobre a construção de cerca de 500 novos colonatos por Israel em território palestiniano. E sobre isso o caro Anónimo não se pronunciou.

Anónimo disse...

Poderá continuar a registar a minha admiração pelos E.U.A.,com as suas qualidades e defeitos,mas que na minha modesta posição procuro defender de ataques injustificados,e que aliás(não quer dizer que seja o caso) frequentemente escondem intenções de ataque a valores essenciais,como a Liberdade individual e social,a democracia política,enfim os critérios tradicionais das sociedades civilizadas ocidentais. Ou resumindo para francófilos,estou com Aron contra Sartre. Não sei neste caso se valerá a pena,com estas limitações de espaço,ir muito mais longe. Mas creio que não me fiz entender quanto aos exemplos das Fundações,etc. É que são exemplo de generosidade e filantropia que raramente vemos na Europa. Muitas Universidades,Hospitais,Teatros,Museus,existem por doação livre de pessoas que tiveram uma noção do interesse público da riqueza que contradiz o seu cliché do "lucro pelo lucro". Ao contrário do que afirma,as Universidades,e as melhores,estão longe de ser frequentadas exclusivamente por elites,pois as bolsas abundam. Ou como é que o Obama chegou a Harvard,onde dirigiu a Revista jurídica? Se há traço característico dos E.U.A. é precisamente a mobilidade social.No que diz respeito à iliteracia generalizada,gostava de saber onde colheu essas informações. Eu vou-me ficando pela quantidade e qualidae dos livros publicados. Mas bastaria estudar o país sem preconceitos,o que penso não lhe será fácil...
Quanto aos colonatos é óbvio que lhe dei razão nas primeiras linhas do meu 1º comentário,quando referi a política absurda do P.M. israelita. Absurda e, se nada se passa atrás da cortina em negociações que ignoramos,então tambem extremamente prejudicial para os interesses "ocidentais". Está claro? Assim espero.