domingo, 19 de abril de 2009

FAUSTO

Reapareceu nos escaparates de algumas lojas, a preço de saldo, a edição em DVD (legendada em português) do Fausto, de Goethe, realizado por Peter Gorski em 1960, a partir da produção teatral do Deutsches Schaulspielhaus, de Hamburgo. São intérpretes Will Quadflieg (na edição portuguesa chamam-lhe Quadfield), em Fausto, Gustaf Gründgens, em Mefistófeles e Ella Büchi, em Margarida.

Peter Gorski (n. 1921) realizou este filme (aliás, o único) graças ao empenho de seu pai adoptivo Gustaf Gründgens (1899-1963), que foi um dos maiores actores alemães do século passado. Na realidade, Gorski era amante de Gründgens, e foi adoptado com a finalidade de vir a herdar os seus bens. Gründgens, que se tornou célebre pelas suas interpretações do papel de Mefistófeles, do Fausto, de Goethe, beneficiou da protecção de Göring, mantendo uma relação de comprometimento com o nazismo que lhe permitiu prosseguir a sua carreira durante o período do Terceiro Reich.

A figura de Gründgens adquiriu uma projecção especial, e mundial, não só pela sua excelência como actor, mas igualmente por ter sido o protagonista do romance Mephisto, de Klaus Mann, que se tornou num dos mais famosos casos literários da Alemanha do século XX. Gründgens fora cunhado de Klaus Mann, o filho de Thomas Mann, por ter casado com sua irmã Erika e os três trabalharam no teatro, dando-se o caso de serem todos homossexuais, aliás como o próprio Thomas Mann. As relações singulares destas personagens reais (que poderiam sê-lo apenas de ficção) encontram-se descritas numa obra recente (2008), In the Shadow of the Magic Mountain, de Andrea Weiss. Gründgens, após o casamento com Erika (que durou de 1926 a 1929), casou uma segunda vez, em 1936, com a famosa actriz alemã Marianne Hoppe, relação que durou até 1946.

Klaus Mann suicidou-se em Cannes, em 1949; Gustaf Gründgens morreu em Manila, em 1963, de uma hemorragia interna (de facto, suicidou-se com uma dose mortal de comprimidos); Erika Mann, após uma vida tumultuosa, morreu em Zurich, em 1969, ocupando-se, nos últimos tempos, da publicação das obras do pai e do irmão.

Não admira que todas estas figuras tivessem uma atracção especial (e fatal) pela personagem de Mefistófeles, que Goethe imortalizou no seu Fausto, dando continuidade à antiga lenda germânica que já Marlowe tornara conhecida na velha Albion.

1 comentário:

Anónimo disse...

Uma família bem digna do pai, Thomas Mann, que escreveu Morte em Veneza, entre muitas obras primas e que recebeu o prémio Nobel da Literatura