sábado, 20 de agosto de 2022

UMBERTO SABA E O ROMANCE INACABADO

Comprei a tradução portuguesa de Ernesto, de Umberto Saba, quando foi publicada, em 1988, mas a exemplo de tantos outros livros, embora conhecesse o argumento, nunca tinha lido a obra. Aconteceu agora.

Notável poeta e escritor italiano, Umberto Saba, de nascimento Umberto Poli, nasceu em Trieste, em 9 de Março de 1883, e morreu em Gorizia, em 25 de Agosto de 1957. Tendo começado a publicar poesia ainda antes da Primeira Guerra Mundial, prosseguirá a sua carreira e alcançará a celebridade já depois do conflito de 1939-1945, tendo recebido vários prémios, entre os quais o Prémio Taormina, e obtendo um grau honoris causa pela Universidade de Roma.

A sua poesia é caracterizada por uma profunda sensibilidade e uma extrema simplicidade, o que a torna singular no panorama literário italiano. É provável que a sua origem triestina (nasceu quando a cidade pertencia ao Império Austro-Húngaro, tendo depois pertencido aos italianos e aos jugoslavos, sido considerada cidade livre e regressando novamente à Itália) tenha influenciado a sua carreira e o seu percurso pessoal, em todos os domínios, como se poderá constatar pela consulta da sua biografia.

O romance Ernesto foi escrito em 1953, quando o escritor tinha 70 anos e, como ele próprio advertira, ficou inacabado. A acção decorre em 1898 e o protagonista é um homossexual (ou bissexual) de 16 anos, mas a história, porque interrompida, não conhece desenvolvimento para lá da adolescência do jovem. Trata-se, realmente, de um romance autobiográfico de Umberto Saba, que o escritor não quis concluir.

A obra foi publicada em 1975 (inconclusa), quase 20 anos depois da morte de Saba, pelas Edições Einaudi, com a ajuda da filha do poeta. Sobre o romance, foi realizado um filme por Salvatore Samperi, em 1979.

Sobre Ernesto, a grande escritora italiana Elsa Morante (1912-1985) registou em Nota Introdutória: «O rapaz de Saba, por sua graça, está imune de certos tabus, responsáveis por transformarem as realidades naturais em monstros absurdos e delituosos. E enquanto para os outros, contaminados pelos tabus, uma experiência destas poderia transformar-se numa determinação irreal (que os poderia tornar em escravos perpétuos duma irrealidade) para o rapaz de Saba ela permanece o que é: um simples encontro humano, que em si é inocente (já que ele não foi corrompido) e não é maléfico.»


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