sexta-feira, 17 de julho de 2020

ALI DUAJI




Tive conhecimento, através do meu amigo Abdeljelil Larbi, da publicação, há poucos dias, da tradução portuguesa de um livro do escritor tunisino Ali Duaji,  Périplo pelos bares do Mediterrâneo e outras histórias.

Trata-se da primeira obra deste autor editada em português e creio que da primeira tradução em português de um autor tunisino, mas posso estar enganado. Tenho várias obras de ficção de escritores tunisinos, mas todas em francês, ou porque foram escritas directamente en francês, ou porque foram traduzidas do árabe para o francês.

A presente edição inclui não só a novela Périplo pelos bares do Mediterrâneo (Jawlah bayna hânât al-Bahr al-Mutawassit), publicada pela primeira vez na revista "Al-'âlam al-'arabi", entre Setembro de 1935 e Fevereiro de 1936, como também cinco pequenos contos publicados em jornais e revistas entre 1936 e 1953: O Tio Giacomino (Al-''amm Jâkômînô), A Minha Vizinha (Jâratî), Ramadão (Ramadhan), Ele Faz-me Passar as Noites em Branco (Sahirtu minhu al-layâlî) e O Segredo do Sétimo Quarto (Sirr al-ghurfah as-sâbi'ah).

Ali Duaji (1909-1949), realizou apenas estudos primários, mas logo se interessando pela literatura. Começou a trabalhar no comércio aos doze anos, e desde muito cedo a enviar textos para jornais e revistas. Pertenceu a um grupo de intelectuais que se reunia nos cafés do bairro de Bab Suika e que ficou conhecido como grupo "Taht as-Sur", nome de um dos cafés que a tertúlia frequentava. Em 1936, fundou o jornal "As-Surur", célebre pelas suas caricaturas satíricas. Duagi foi um crítico da sociedade da sua época e a sua obra dispersa, especialmente os seus contos, foi reunida num volume publicado em 1969, vinte anos após a sua morte, vítima de tuberculose, numa antologia intitulada Sahirtu minhu al-layali (Noites acordadas). É a partir de então que o seu nome, entretanto caído no esquecimento,  começa a ser recuperado e os seus textos (Duagi foi ficcionista, poeta, dramaturgo) a adquirirem nova visibilidade pública. Em 2014, as suas Obras Completas são editadas com o patrocínio do Ministério da Cultura da Tunísia. O grande escritor egípcio Taha Hussein (1889-1973) prefaciou um dos seus contos e considerou Duaji uma voz especial entre os modernos escritores árabes.

A novela Périplo pelos bares do Mediterrâneo descreve a viagem de barco efectuada pelo autor a partir de Tunes, com paragem na Córsega, em Nice, em Nápoles, no Pireu, em Atenas, em Istanbul  e Esmirna. Era suposto o périplo terminar em Alexandria, mas o relato acaba nesta última cidade turca.

Como o próprio escritor indica, não lhe interessa referir (ou mesmo visitar, salvo excepções) museus ou monumentos, mas sim contactar as populações, observar os seus usos e costumes, fixar as suas características particulares, salientar episódios curiosos. Tudo isto numa linguagem muito simples, revelando mesmo por vezes uma certa ingenuidade, o que terá tornado os seus escritos muito populares e apreciados.

As observações registadas por Duaji, que numa leitura de relance poderão parecer superficiais, revelam a acuidade de um espírito atento a simples pormenores do quotidiano, numa tradição dos velhos contos árabes.

5 comentários:

António disse...

Mares?

Abdeljelil Larbi disse...

Excelente apresentação de um dos melhores escritores tunisinos de sempre!.

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

Obrigado, Abdeljelil. Aguardemos outras traduções das suas obras, e também de outros escritores tunisinos tão mal conhecidos em Portugal.

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

Resposta a António:

Tem razão. Já substituí mares por bares. Uma distracção motivada pelo árabe "bahr", que significa "mar", mas neste caso aplicado ao Mediterrâneo, e que não está traduzido no título. Deveria ser: Périplo pelos bares (hanat) do Mar Mediterrâneo! Obrigado.

Unknown disse...

Não conhecia mas vou passar a conhecer.Acabei de ver o livro na fnac e vou lê-lo.
Sou uma apaixonada da cultura tunisina :a minha tese de mestrado foi a biografia de Habiba Messina, a célebre cantora e actriz tunisina que viveu entre 1900 e 1930