domingo, 20 de julho de 2014

O HORROR EM GAZA




A recente ofensiva israelita em Gaza suscita enorme indignação mundial mas, mesmo assim, insuficiente para mobilizar a chamada comunidade internacional contra o morticínio desencadeado pelo Estado Judaico.

O antiquíssimo conflito israelo-palestiniano, cuja história, mil vezes evocada, nos dispensamos de comentar agora, não só constitui um clamoroso atentado ao direito internacional (talvez a provar que esse direito internacional não existe) como é uma das mais evidentes causas da ascensão do fundamentalismo islâmico e da desintegração (certamente desejada por muita gente) do Médio Oriente.

A propósito da carnificina em curso, e pela sua pertinência, transcrevemos o post hoje publicado pelo embaixador Francisco Seixas da Costa no seu blogue "duas ou três coisas":

Gaza

Vai para duas décadas, dormi uma noite na Faixa de Gaza. Embora fosse novembro, a noite estava quente e abafada. A insónia fez com que eu me sentasse, por algum tempo, na varanda da espartana "guest house" que o governo de Arafat me tinha destinado. Recordo-me de ter dado por mim a notar o pesado silêncio da noite daquela que era, e ainda hoje é, uma das zonas mais densamente povoadas do mundo. Só ao fim de uns minutos realizei que, tendo sido assassinado horas antes o primeiro-ministro de Israel, Itzak Rabin, aquela não era para Gaza uma noite normal, numa terra que se habituou a conviver com a insegurança. O silêncio significava então algo mais: o medo.

Os últimos dias e noites não têm sido fáceis em Gaza e as muitas centenas de mortos árabes, para punir a mão-cheia de vítimas israelitas, repetem um "script" que todos conhecemos de cor.

Não faço a menor ideia de como vai acabar, se é que algum dia vai acabar, o triste conflito israelo-palestiniano. Uma coisa tenho por certo: as humilhações e os padecimentos, somados à pobreza e à raiva que vêm com eles, são o irreversível caldo de cultura em que foram criadas várias gerações de palestinianos. Nunca uma paz sustentável de construiu sobre a persistência do ódio e Israel sabe bem que, com esta sua postura, afasta, dia após dia, as hipóteses de uma paz negociada, numa guerra que nunca vai poder ganhar em absoluto. Pelo contrário, com a sua política de permanente desprestígio da Autoridade Palestiniana e desprezo notório pelas vidas dos seus vizinhos, Israel dá adubo ao terreno onde prosperarão sempre o Hamas e outros grupos radicais. O governo de Telavive recorre, ano após ano, às ações militares que só geram novos e eternos inimigos nas populações civis árabes, fartas de ver nascer, como cogumelos, sucessivos colonatos judaicos - sob a cínica complacência internacional - que afastam, a cada hora, a sua esperança de retornar à terra que as resoluções da ONU lhes atribuiu, mas que ninguém obriga Israel a cumprir.

Perante o mundo, desde os "taken for granted" EUA até à pusilanimidade europeia, os palestinianos parece só terem o dever à sua ritual humilhação. Israel, na assunção eterna do direito histórico à "terra prometida", potenciado pelo usufruto da memória da barbárie nazi e, mais recentemente, da onda anti-muçulmana depois do 11 de setembro, tem sempre mão livre para tudo quanto entenda fazer, não se lhe aplicando a condenação que atitudes idênticas provocariam, se acaso tivessem sido outros Estados a praticá-las. Por muito que alguns atos palestinianos sejam condenáveis, o saldo da violência israelita é incomensuravelmente maior, é uma insuportável bofetada no Direito Internacional, assumida com arrogância e com uma cegueira histórica que um dia acabará por se voltar, em definitivo, contra o Estado judeu.

Termino com uma pergunta: por que razão Israel não aceita que as Nações Unidas coloquem observadores internacionais com a responsabilidade de vigiarem as linhas de separação entre o seu território e as áreas atribuídas às autoridades palestinianas, que, por exemplo, facilmente poderiam denunciar os ataques feitos destes últimos para o seu território? É na resposta nunca abertamente dada a esta questão que reside a chave da verdadeira atitude de Israel perante todo este problema.

2 comentários:

Anónimo disse...

A impunidade de Israel deve-se à protecção americana e à inanidade cúmplice da União Europeia. Como todas as coisas, terá um fim.

Maria Celeste Ramos disse...

Quem tem VOZ nas Nações UNIDAS ??
Quem faz cumprir as RESOLUÇÔS ??
O palácio de NY é um grande CIRCO e dos melhores empregos e ordenados do mundo e como dizia Cofi Annan de todo o dinheiro que têm só 10% cega ao "destinho" pois que é consumido pela estrutura - eu prefiro cahamar circo pois que lá estive em abril 1992-ECO-92 e pouco tempo me bastou e usarem a Sofia Loren ou Catarina Furtado é outra dimensão do CIRCO embora também tenham usado a Peincesa do Mónaco - nada serve