sábado, 13 de agosto de 2011

ACORDOS SECRETOS


Porque nem todas as pessoas o terão lido, transcrevo o artigo agora enviado por um amigo e que foi publicado em 27 de Dezembro de 2007:


O pesquisador português Moisés Silva Fernandes apresenta na Universidade de Oxford dados que comprovam um acordo secreto entre quatro potências anglófonas, em 1963, para entregar Timor-Leste à Indonésia.
Segundo documentos a que o investigador de ciências políticas e de relações internacionais da Universidade de Lisboa teve acesso no Arquivo Nacional da Austrália e no Foreign Office britânico, Reino Unido, Estados Unidos da América, Austrália e Nova Zelândia acordaram secretamente, em duas reuniões ocorridas em Washington, em 1963, que o então Timor português só poderia ser incorporado na República Indonésia.

“Sobre Timor, todos concordamos que mais tarde ou mais cedo a Indonésia vai apoderar-se da parte portuguesa da ilha de Timor e todos à volta da mesa tornaram bem claro que os seus governos não estavam preparados para envolver forças militares para evitar esta situação”, lê-se num telegrama enviado pela embaixada australiana nos Estados Unidos para o ministro dos Negócios Estrangeiros de Camberra, em 13 de Fevereiro de 1963.

Nessa data, altos responsáveis das políticas externas dos quatro países começaram a sua primeira rodada negocial sobre Timor-Leste, a que se somaria um segundo encontro em Outubro do mesmo ano, também em Washington.

“Estes encontros foram secretos, Portugal nunca foi informado de nada”, adianta o especialista. As reuniões, prossegue, destinavam-se a resolver a questão de Timor-Leste “numa política de apaziguamento em relação à Indonésia”.

O pesquisador sustenta que Timor-Leste estaria servindo de “moeda de troca” para conter o nacionalismo indonésio, à data liderado por Sukarno, e possíveis ambições territoriais de Jacarta em relação à Papua Nova Guiné Oriental (então uma colónia australiana), e a uma “grande Malásia” que se criara a partir de antigas possessões britânicas no sudeste asiático.

“Estava escrito em Washington que Portugal era o peão a cair”, em nome dos interesses das potências ocidentais no sudeste asiático. Será que a decisão tomada a respeito de Timor-Leste foi o rebuçado que se deu aos indonésios para não criarem problemas na Papua Nova Guiné Oriental?, pergunta o investigador.

Em Outubro de 1963, os quatro países anglófonos voltaram a reunir consenso sobre Timor-Leste em Washington.

“O ideal do nosso ponto de vista seria que os portugueses cedessem Timor de boa vontade e de um modo que a transferência para a Indonésia não seja o resultado de uma agressão ou de um movimento cínico apaziguador para o Presidente (indonésio) Sukarno, lê-se num documento secreto de preparação da diplomacia londrina para o segundo encontro.

Para Moisés Fernandes, a interpretação destes novos dados é clara. Onde outros podem ver ‘realpolitik’, eu vejo cinismo, comenta.

A Indonésia invadiu Timor-Leste em 07 de Dezembro de 1975, 12 anos após estas reuniões secretas, e, com o silêncio das potências ocidentais, ocupou o território até à consulta popular de 30 de Agosto de 1999, cujo resultado conduziu à independência do país asiático de expressão portuguesa.

“Se Portugal soubesse deste consenso ocidental e regional, talvez tivesse existido mais cautela nas reuniões que manteve com a Austrália a propósito do plano de descolonização para Timor, porque a Austrália não estava de boa fé”, comenta Moisés Silva Fernandes.

A Indonésia, nota, também estava a par das iniciativas de descolonização de Timor-Leste, bem como do posicionamento secreto das potências ocidentais.

“Ao contrário da tese que se generalizou, Portugal não abandonou Timor-Leste em 1975, porque pouco podia fazer”, considera o investigador da Universidade de Lisboa.

Autor de vasta obra de investigação política e de relações internacionais sobre a China, Moisés Silva Fernandes prevê escrever um artigo sobre as suas revelações históricas a propósito de Timor-Leste, em inglês, na revista científica de estudos internacionais South European Society & Politics e incluir os novos elementos históricos, em português, num livro dedicado aos anos de 1974 e 1975 em Timor-Leste, a lançar em 2008.

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