segunda-feira, 9 de novembro de 2009

OS MUROS


Comemora-se hoje o 20º aniversário da queda do Muro de Berlim. Construção aberrante, como todas as que impedem o convívio humano, o Muro de Berlim, construído em 1961, separou os cidadãos da capital germânica (a velha capital da Prússia, do Império, da República e do III Reich,
cujo símbolo maior é a Porta de Brandenburg), durante quase 30 anos.

Muito se tem escrito sobre a reunificação de Berlim e a consequente reunificação da Alemanha. Não é este nem o momento nem o lugar para considerações sobejamente conhecidas. Apenas uma breve nota para evocar a satisfação com que a destruição dessa barreira foi acolhida, pelos alemães, em primeiro lugar, e em geral pela Europa e o Mundo. E também para acentuar que ainda hoje persiste uma outra barreira (invisível) mental e económica, entre os cidadãos de Berlim ex-Oriental e de Berlim ex-Ocidental e entre os cidadãos da ex-RDA e da ex-RFA.


A precipitação com que ocorreu a reunificação - e talvez não pudesse ter sido de outra maneira - não preveniu o desequilíbrio social que veio a verificar-se. Ainda em Abril passado, falando em Berlim com vários alemães, me apercebi que o espírito de solidariedade que existia na RDA foi substituído abruptamente pelo espírito de competitividade selvagem que se verificava na RFA e que se está a alargar a toda a Alemanha. Que no que foi Berlim-Leste e a RDA os salários são substancialmente mais baixos que no lado ocidental. Que os serviços gratuitos (ou quase) existentes a Leste, como a saúde, a educação, os transportes, etc., estão agora nivelados em toda a Alemanha. Aliás, como se está registando na União Europeia: para preços iguais, salários diferentes.


Ganhou-se em liberdade formal o que se perdeu em igualdade real e nem sequer se aproveitou em fraternidade aparente. O regime comunista era politicamente repressivo, sem dúvida; o regime capitalista é economicamente repressivo. Sendo ambos socialmente repressivos. Existe hoje, indiscutivelmente, uma efectiva desilusão no espírito dos alemães quanto à bondade da reunificação. Há sempre um preço a pagar, e a História não deixará de o registar.

Mas subsistem ainda outros muros pelo mundo. Citarei, apenas , dois: o Muro que divide Nicósia, a capital do Chipre, e o Muro com que os israelitas cercaram a Cisjordânia.

O primeiro, consequência da disputa entre gregos e turcos pela soberania da ilha, poderia ter sido desmantelado e reunificada a ilha dividida entre a República do Norte (turca) e a República do Sul (grega), mesmo sob a forma de federação, se a União Europeia tivesse exigido a conclusão de negociações como condição para a admissão de Chipre (grego) na União. Não o fez, cedendo à chantagem da Grécia, que ameaçava opor-se ao alargamento comunitário a outros países, e o problema persiste.


O outro Muro, muro da vergonha, é o que os israelitas construíram à volta da Cisjordânia, na tentativa de consumação da sua política de apartheid em relação aos palestinianos. Nada do que se possa escrever, aqui e agora, é desconhecido dos leitores. Dir-se-á tão só que a prossecução dessa política apenas contribuirá para que no dia em que a segregação termine (como aconteceu na África do Sul) as feridas abertas sejam incomensuravelmente maiores.

2 comentários:

Paulo César de Castro Silveira disse...

o muro em israel protege nosso povo do terrorismo islamico.

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

Para Paulo Silveira

Ainda não havia terrorismo islâmico já Israel construía muros. Haveria ataques dos palestinianos sim, mas para recuperar a terra que as próprias Nações Unidas lhe haviam concedido aquando da partilha de 1947.