sábado, 29 de agosto de 2009

O DUQUE DE OTRANTO















Os recentes comentários de Joaquim Pina Moura sobre o programa eleitoral do PSD recordaram-me a sua trajectória político-partidária, desde o tempo em que, fervoroso adepto de Álvaro Cunhal, militava activamente no PCP. Seguiu-se a desvinculação do Partido Comunista, a adesão ao PS, onde ocupou lugar de destaque no governo de António Guterres, a saída da política activa para a "economia activa", a "sua", e eis que, de súbito, o vejo sustentar publicamente o programa de Manuela Ferreira Leite.

Não merece qualquer censura o apoio declarado às ideias do PSD. Cada um apoia o que quer e quem quer, e ainda bem que assim é. Nem sequer uma sincera alteração das convicções políticas seria motivo de grande alarido; lembro uma frase célebre de Salgado Zenha quando disse que "só os burros não mudam de ideias". O que me preocupa é a flutuação de opiniões ao que parece - e em política, já dizia Salazar, "o que parece é" - ao saber de oportunidades, e quiçá de oportunismos, pessoais. Isto é, não terá havido uma mudança de opinião, se é que alguma vez teve opinião sobre qualquer coisa, mas uma correcção da sua trajectória pessoal em função das suas conveniências pessoais.

E, por isso, lembrei-me de uma figura célebre, tristemente célebre, Joseph Fouché, mais tarde Duque de Otranto, que Stefan Zweig retratou num livro notável. Prefeito de uma congregação religiosa no tempo de Luís XVI, Fouché aderiu de alma e coração aos ideais da Revolução, tornou-se indefectível inimigo da Monarquia e votou a morte do Rei, exerceu lugares importantes na República, no Directório e a seguir no Império, após se tornar partidário de Napoleão (que o manteve como ministro da Polícia), virou-se para a Monarquia, oferecendo a regência ao futuro Carlos X depois de vencido o Imperador e voltou a aderir a Napoleão aquando dos Cem Dias. Após a derrota de Waterloo, foi chefe do governo provisório, novamente ministro e depois embaixador no reinado de Luís XVIII. Finalmente proscrito e exilado como regicida, morreu em Trieste, ainda assim assistido por Jerónimo Bonaparte que lhe queimou os papéis.

Nas suas Mémoires d' Outre-Tombe, Chateaubriand recorda a visão infernal de Talleyrand (esse, apesar de tudo, um estadista) sustentado por Fouché visitando o rei Luís XVIII, quando o segundo lhe foi jurar fidelidade: "o vício apoiado nos braços do crime".

Não pretendo que Pina Moura seja ou venha a ser um Duque de Otranto, mas é verdade que já no governo de Guterres lhe chamavam "o cardeal".

3 comentários:

Anónimo disse...

esse gajo só quer é dinheiro, está-se nas tintas para o partido desde que receba o dele

Leitor disse...

Se calhar o Pina Moura em miúdo leu o "Fouché" do Stefan Zweig... Chamem-lhe parvo

Anónimo disse...

As declarações de Pina Moura nada interessam às próximas eleições mas são significativas do carácter do homem. Quem tiver apoios destes pode dispensar os adversários.

Afinal onde é que estão as convicções, apenas na algibeira? Com políticos destes Portugal só se afunda.