sexta-feira, 31 de julho de 2009

OS PARQUÍMETROS

Antigamente a rua era de todos. Com o andar dos tempos, e dos carros, foi-se retirando aos cidadãos a utilização grátis desse espaço público. As cidades foram progressivamente dotadas dessas máquinas vorazes destinadas a esportular aos mortais possuidores de uma, ainda que modesta, viatura uns tantos cobres para aumento do pecúlio das edilidades, directamente ou através de terceiros, isto é, de empresas vocacionadas para aplicar multas e imobilizar automóveis.

É claro que as grandes cidades (mas o esquema também logo se aplicou às pequenas) não comportam todos os veículos que pretendem estacionar. Mas o problema não diz apenas respeito aos carros que se movimentam mas também aos que ficam às portas das casas, mesmo das mais recentes, porque as câmaras municipais, por razões que a razão não desconhece, aprova projectos em que não figura a obrigatoriedade de reservar estacionamento para os moradores.

A taxação das ruas tem sido implementada com uma cínica discrição. Primeira só aos dias de semana, depois também aos sábados, finalmente todos os dias; primeiro só umas horas, depois das 9 às 17 h, a seguir das 8 às 18 h, depois até às 20; por fim 24 h por dia. Entretanto surgiram também parques subterrâneos ou em altura, para acolher todos os carros que precisam de estacionar, e isto a preços excessivos.

Reportando-me especialmente a Lisboa, é evidente que muitos dos cidadãos que trazem o carro para o centro ou a periferia do centro disso verdadeiramente não carecem, mas os transportes públicos são maus, aliás são cada vez piores, e existe uma emulação saloia de vir de automóvel, em parte promovida pela publicidade das construtoras, que não perceberam ainda que não está distante o momento em que já não há lugar para mais veículos.

Esta ideia de taxar o espaço público, com a invocação de razões de ordem prática que se pretendem absolutamente manifestas, assenta em pressupostos falaciosos. Eu sei que no estrangeiro também é assim, ou parecido, mas não me admiro com o facto, pois todos lêem pela mesma cartilha.

Com estas artimanhas (a juntar a tantas outras) de sacar o dinheiro do contribuinte (nome que hoje se dá aos cidadãos (e com razão), longe não virá o tempo em que teremos de pagar para sair à rua, teremos um contador ao pescoço e ser-nos-ão debitados todos os passos que dermos, possivelmente até com controlo de velocidade.

A este propósito, constato que a actual Câmara Municipal de Lisboa vem procedendo sub-repticiamente ao aumento do tempo de estacionamento pago. Verifiquei há dias que na Rua Silva Carvalho o limite de tempo, que estava fixado às 20 h, passou agora para as 22 h. Porquê, em termos racionais? Para aumentar as receitas da Câmara e eventualmente para multar condutores distraídos.

Não sei o que Santana Lopes pensa deste assunto. Mas se António Costa for reeleito presidente, à frente dessa improvável coligação com Roseta, apadrinhada por Alegre e apoiada por intelectuais e artistas certamente desatentos (ou não), receio o pior.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ainda bem que alguém se interessa sobre os problemas do estacionamento em Lisboa.Parabéns

cidadão disse...

Uma vergonha. O que actualmente se passa na nossa ciodade e em tantas outras, é o exemplo paradigmático do saque e de como os valores do dinheiro e do economicismo superam qualquer princípio de solidariedade social ou ético. Tudo em nome duma falsa e hipócrita propaganda martelada do bem-estar das populações e do desenvolvimento sustentado para inglês ver, não para português viver.