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É claro que as grandes cidades (mas o esquema também logo se aplicou às pequenas) não comportam todos os veículos que pretendem estacionar. Mas o problema não diz apenas respeito aos carros que se movimentam mas também aos que ficam às portas das casas, mesmo das mais recentes, porque as câmaras municipais, por razões que a razão não desconhece, aprova projectos em que não figura a obrigatoriedade de reservar estacionamento para os moradores.
A taxação das ruas tem sido implementada com uma cínica discrição. Primeira só aos dias de semana, depois também aos sábados, finalmente todos os dias; primeiro só umas horas, depois das 9 às 17 h, a seguir das 8 às 18 h, depois até às 20; por fim 24 h por dia. Entretanto surgiram também parques subterrâneos ou em altura, para acolher todos os carros que precisam de estacionar, e isto a preços excessivos.
Reportando-me especialmente a Lisboa, é evidente que muitos dos cidadãos que trazem o carro para o centro ou a periferia do centro disso verdadeiramente não carecem, mas os transportes públicos são maus, aliás são cada vez piores, e existe uma emulação saloia de vir de automóvel, em parte promovida pela publicidade das construtoras, que não perceberam ainda que não está distante o momento em que já não há lugar para mais veículos.
Esta ideia de taxar o espaço público, com a invocação de razões de ordem prática que se pretendem absolutamente manifestas, assenta em pressupostos falaciosos. Eu sei que no estrangeiro também é assim, ou parecido, mas não me admiro com o facto, pois todos lêem pela mesma cartilha.
Com estas artimanhas (a juntar a tantas outras) de sacar o dinheiro do contribuinte (nome que hoje se dá aos cidadãos (e com razão), longe não virá o tempo em que teremos de pagar para sair à rua, teremos um contador ao pescoço e ser-nos-ão debitados todos os passos que dermos, possivelmente até com controlo de velocidade.
A este propósito, constato que a actual Câmara Municipal de Lisboa vem procedendo sub-repticiamente ao aumento do tempo de estacionamento pago. Verifiquei há dias que na Rua Silva Carvalho o limite de tempo, que estava fixado às 20 h, passou agora para as 22 h. Porquê, em termos racionais? Para aumentar as receitas da Câmara e eventualmente para multar condutores distraídos.
Não sei o que Santana Lopes pensa deste assunto. Mas se António Costa for reeleito presidente, à frente dessa improvável coligação com Roseta, apadrinhada por Alegre e apoiada por intelectuais e artistas certamente desatentos (ou não), receio o pior.
2 comentários:
Ainda bem que alguém se interessa sobre os problemas do estacionamento em Lisboa.Parabéns
Uma vergonha. O que actualmente se passa na nossa ciodade e em tantas outras, é o exemplo paradigmático do saque e de como os valores do dinheiro e do economicismo superam qualquer princípio de solidariedade social ou ético. Tudo em nome duma falsa e hipócrita propaganda martelada do bem-estar das populações e do desenvolvimento sustentado para inglês ver, não para português viver.
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