segunda-feira, 8 de junho de 2009

O BLOCO DE ESQUERDA


Parece evidente que o Bloco de Esquerda foi o autêntico vencedor das eleições europeias. Se é verdade que o PSD ganhou aritmeticamente as eleições e o PS as perdeu, se a CDU passou para quarta força política e o CDS para quinta, o BE, em terceiro lugar e com 3 deputados, foi quem averbou a vitória mais espectacular.

O resultado destas eleições não tem, para mim, nada de inesperado. O Partido Socialista, que já em tempos, com o Dr. Soares, metera o socialismo na gaveta, converteu-se numa força "situacionista" ancorada no bloco central de interesses, sem ideologia e sem ideias. Os apoiantes de Manuel Alegre, de quem, talvez por desatenção minha, não ouvi falar nas emissões televisivas, ou não votaram, ou votaram em branco ou no BE, que veio a capitalizar os partidários de um socialismo que já não se revê no PS. O Partido Comunista (com a habitual sigla CDU) continua mais ou menos arreigado à cartilha que em tempos lhe rendeu votos, mas, mesmo com mais alguma liberdade nos costumes, vai perdendo, pela lei da vida, os antigos votantes e não convence os novos; embora deva registar-se que o seu enfraquecimento tem sido mais lento do que se esperaria graças ao empenhamento dos seus militantes fiéis. O CDS aguentou-se, creio que graças a Nuno Melo e o PSD, o vencedor efectivo destas eleições, obteve um resultado modesto quando comparado com os seus tempos áureos, embora melhor do que o previsto atendendo à turbulência interna dos últimos anos.

Com uma abstenção superior a 60%, não só em Portugal mas por toda a Europa, estas eleições demonstram, como escrevi há dias, quão afastados estão os europeus desta União que pouco lhes diz, como pouco lhe dizem os partidos que arrecadam os votos, que têm certamente programas eleitorais, mas que pouco ou nada cumprem do que prometem. Na União Europeia, como nos países que a compõem, vota-se (quando se vota) mais por por exclusão de partes do que por convicção íntima.

Pode espantar que o Bloco de Esquerda (uma junção de partidos da extrema-esquerda) obtenha mais do que 10% dos votos em Portugal, mas o discurso do BE não é hoje um discurso de extrema-esquerda, tem abraçado o que entre nós ainda se costuma apelidar de causas fracturantes, mas que interessam, quer se queira quer não, a grande parte da população e mantém um discurso que. em circunstâncias normais, deveria ser o do Partido Socialista.

É bom este separar das águas porque contribui para a clarificação da situação política. Estou convencido de que os portugueses não querem, definitivamente, a reedição de um bloco central. Que se governe, pois, à esquerda ou à direita, ainda que estas noções sejam progressivamente mais confusas mercê da evolução dos tempos; ou pelo menos que se governe em função de claros programas de governo, sem invocação a posteriori de desculpas esfarrapadas para não cumprir as promessas eleitorais. Este Partido Socialista, a quem foi dada nas últimas legislativas uma maioria absoluta, cometeu erros inúmeros (e era bom que fossem só erros) e não se afigura capaz de inverter os resultados nos próximos actos eleitorais.

A Democracia, que é um sistema que fica caro aos cidadãos, exige que estes mereçam o respeito dos governantes. Assim deveria ser, assim deverá ser, mas não tenho a certeza daquilo que o futuro nos reserva!

Quanto aos outros países da Europa, não possuindo dados pormenorizados, abstenho-me de comentar. Ainda que pense que em Bruxelas, apesar da vitória dos partidos da "direita", se comece a repensar a União Europeia.

1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo parcialmente com o autor,nomeadamente quanto à relativa "vitória" do Bloco.Não sei se há mais algum país europeu onde um partido dirigido por trotskystas,pro-albaneses,maoistas,etc,tenha obtido semelhantes resultados. Porque se o "discurso" do Bloco,como diz bem o autor,é modernaço,jovem,fracturante,e restantes "clichés" à escolha,mas isso não deve fazer esquecer a sua identidade programática,que corresponde às posições nunca desmentidas dos seus dirigentes. A votação do Bloco é apenas mais um exemplo do analfabetismo político reinante,pois não acredito que 95% dos votantes quisessem viver subjugados a qualquer Enver Hoxha,ou a submeter-se à ditadura do Partido da vanguarda proletária internacional do fanático,vítima sim do Stalin, mas co-autor dos massacres dos levantamentos pró-anarquistas de Kronstadt e Petrograd. Sob a capa da "modernidade" bloquista,escondem-se os programas ditatoriais que os outros partidos na sua ingenuidade(?) ou estupidez, se esquecem de revelar e analisar. Essa seria a melhor arma contra a fraude do Bloco. E,desculpe,mas as causas fracturantes mais importantes já estão previstas no programa do P.S. Atenção,não sou P.S. nem milito em qualquer partido,mas irritam-me os lobos com peles de cordeiro.