segunda-feira, 29 de junho de 2009
O FILHO DA MÃE
Trata-se de uma obra curiosa tendo por fundo a Rússia Eterna. A acção decorre em 2003 (por ocasião do tricentenário de São Petersburgo), mas perpassam no texto (em sombra) o Império Russo, o Império Soviético, o período de desmoronamento do bêbado Ieltsin (1991-1999) e a tentativa de restauração do prestígio ancestral da nação levada a cabo por Putin.
São algumas estórias cruzadas (na verdade uma só estória) relativas à guerra na Tchetchénia, cuja invasão foi ordenada por Ieltsin quando aquela república da Federação Russa declarou a independência, luta que custou já muitos milhares de vidas e que ainda não terminou. O cenário fundamental é São Petersburgo, o cenário secundário é Grozny, a capital tchetchena. Bernardo Carvalho recebeu uma bolsa para passar três meses numa cidade estrangeira e escrever um livro cujo enredo nela tivesse lugar. Escolheu a antiga capital russa e serviu-se desta guerra como pretexto para denunciar a sociedade disfuncional resultante da queda do comunismo e do estabelecimento de um capitalismo ultra selvagem, que permite a actuação das mais terríveis máfias, de uma corrupção inimaginável, de uma insegurança a todos os níveis, da descrença nos valores tradicionais.
A guerra na Tchetchénia tem ceifado a vida de milhares de jovens russos; e levou a que as mães desses jovens se organizassem em associações para saber do destino dos seus filhos, incorporados à força para combater um (suposto) fundamentalismo islâmico, que talvez não seja mais do que uma afirmação de nacionalismo, numa zona que é problemática desde há muitas décadas.
Mas o autor, achado o pano de fundo, preocupa-se especialmente com a vida das famílias, particularmente dos jovens, de que é exemplo a prostituição dos soldados russos com homens, a fim de receberem dinheiro de que uma parte entra nos cofres dos quartéis ou pelo menos no dos oficiais que organizam os esquemas. E também com as injustiças (mas onde é que elas não existem?) da vida e com os momentos de amor, ainda que fugazes e por vezes subconscientes.
Escreve a certa altura o autor: "Quando não há mais nada, há ainda o sexo e a guerra" (pág. 139) ou "As histórias de amor podem não ter futuro, mas têm sempre passado" (pág. 186). E de facto, é à volta do sexo e da guerra que este livro gira. Vale a pena ler as 200 páginas de O filho da mãe, um livro pequeno mas suficientemente original e bem escrito.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
MICHEL FOUCAULT
Completam-se hoje vinte e cinco anos sobre o desaparecimento de Michel Foucault. O filósofo, que nascera em Poitiers, em 15 de Outubro de 1926, morreria no Hospital Pitié-Salpêtrière, em Paris, em 25 de Junho de 1984, às 13.15 h, segundo o comunicado médico oficial, que faz referência a uma septicemia, omitindo, a pedido da família, que ele falecera vítima de sida. Aliás, a ocultação da causa da morte na imprensa francesa provocou na altura um vivo debate, uma vez que era conhecida, pelo menos nos meios intelectuais, a doença de que padecia Foucault, e que então estava ainda envolta em alguma neblina, dado que o vírus do HIV fora descoberto apenas em 1983, por Luc Montagnier, em França, e também por Robert Gallo, nos Estados Unidos, o que levantou intensa polémica quanto à autoria da descoberta.
A notícia, se bem que aguardada, provocou a maior consternação em França, e no mundo, já que Michel Foucault se pode considerar uma das figuras mais notáveis do pensamento ocidental de todo o século vinte. Evocaram a morte na imprensa francesa Pierre Bourdieu, Paul Veyne, Georges Dumézil, Gilles Deleuze, Georges Canguilhem, Pierre Boulez, etc. Fernand Braudel falou de “luto nacional” e Jean Daniel evocou os primeiros encontros com o Mestre em Sidi Bou Saïd, na Tunísia.
Extraordinária a trajectória de Michel Foucault. Começou a evidenciar-se como menino do coro, ajudando à missa na sua paróquia, e acabou como professor do Collège de France e da Universidade de Califórnia (Berkeley), após uma vida ao serviço do ensino, não só nos EUA e em França, mas também na Suécia, no Brasil, na Alemanha e na Tunísia, posto que ocupou quando o seu jovem amante Daniel Defert, hoje consagrado sociólogo e presidente de Aides France, aí prestou serviço militar. Defert, que ainda é vivo, foi indefectível companheiro de Foucault durante vinte e quatro anos, até à morte do Mestre.
Segundo o seu biógrafo Didier Eribon, Foucault amava a Tunísia, onde ensinou durante dois anos na Faculdade de Letras e Ciências Humanas, no boulevard 9 Avril, ficando instalado em Sidi Bou Saïd (nos arredores de Tunis), primeiro no Hotel Dar Saïd, sobre a baía e depois, sucessivamente, em três pequenas casas, quase idênticas, de paredes brancas e persianas azuis, que são as cores características das habitações daquela localidade e de boa parte do país. Inicialmente, Foucault tomava o TGM (Très Grand Metro), uma espécie de comboio da linha do Estoril, que liga Marsa a Tunis, passando por Sidi Bou Saïd, e fazia o caminho da estação de Tunis para a Universidade a pé, percorrendo primeiro a avenida Bourguiba (aposto eu que parava para tomar um café no Café de Paris) e depois a Medina e o Qasbah até ao boulevard 9 Avril, uma distância que, segundo a minha experiência, pois conheço muito bem os sítios, deve ser superior a 3 quilómetros. Mais tarde comprou um Peugeot 204 branco descapotável. Nem podia ser de outra maneira.
Sidi Bou Saïd - Vista da baía - O Hotel Dar Saïd fica à esquerda mas está fora da imagem
Filósofo, sociólogo, historiador, Foucault é um dos mestres maiores do pós-estruturalismo, etiqueta que aliás não apreciava, considerando o seu pensamento como uma história crítica da modernidade.
Da sua obra vasta e profunda, podem distinguir-se:
- História da Loucura na Idade Clássica, 1961
- As Palavras e as Coisas, 1966
- A Arqueologia do Saber, 1969
- Vigiar e Punir, 1975
- História da Sexualidade I, II e III (1976, 1984 e 1984), cujo volume IV não chegou a ser publicado. Posteriormente foram editados Ditos e Escritos, compilação dos seus cursos e textos dispersos.
Incide essencialmente a obra de Foucault sobre o poder e as suas relações com a sexualidade e a loucura, tendo-nos fornecido, através dos seus estudos e pesquisas, um panorama novo sobre matérias até então aprisionadas pelas super-estruturas e que, após o Mestre, não mais puderam ser encaradas como anteriormente.
Foi também Foucault um militante político ao lado, por exemplo, de Sartre e de Genet, na defesa dos imigrantes. E um companheiro, em lides intelectuais, de Althusser, Lévi-Strauss, Barthes, Claude Mauriac, Patrice Chéreau, Jacques Lacan e tantos outros.
Sobre Foucault escreveram Didier Eribon, o seu biógrafo por excelência, que ainda jovem jornalista conheceu o Mestre e veio mais tarde a ser também professor convidado em Berkeley e noutras universidades, Gilles Deleuze, Paul Veyne, David Halperin, James Miller, o seu biógrafo americano, e tantos vultos da cena intelectual contemporânea. Figura necessariamente polémica, como todas as grandes figuras, continua a suscitar paixões diversas mas impôs-se como uma referência indispensável destas últimas obscuras décadas que vivemos.
Em 1978 e 1979, Foucault esteve no Irão para acompanhar a contestação ao Xá e o triunfo da Revolução que levou ao poder o ayatollah Ruhollah Khomeini, tendo-se entusiasmado com as transformações em curso. As suas opiniões sobre liberdade sexual e género, que os acontecimentos posteriores viriam lamentavelmente a infirmar, ficaram consignadas em várias publicações. Em 2005, Janet Afary e Kevin B. Anderson, editaram um livro em que registam e comentam as posições então por ele assumidas: Foucault and the Iranian Revolution – Gender and the Seductions of Islamism. Esta sedução do islamismo, que tem sido uma tentação do Ocidente desde o fim do século XVIII, é oportunamente descrita no livro La mauvaise vie, de Frédéric Mitterrand, sobrinho do ex-presidente francês, homossexual assumido e anteontem nomeado ministro da Cultura pelo presidente Sarkozy, como “la tentation arabe”, que, no caso vertente, seria a “tentação iraniana”.
Morreu Michel Foucault com 57 anos, demasiado cedo para ele e para o mundo, após uma vida riquíssima e intensíssima de experiências intelectuais e humanas. Deixou uma obra, parcialmente traduzida em português, que deveria ser devidamente lida e cuidadosamente meditada.
Que esta brevíssima evocação do Mestre, modesto tributo a quem tanto se deve, possa contribuir para estimular o estudo da sua obra.
terça-feira, 23 de junho de 2009
ELEIÇÕES NO IRÃO V
Após vários dias de violentos confrontos a situação está mais calma, quer em Teerão, quer nas principais cidades iranianas. Mas trata-se de uma calma aparente, tendo a luta de rua passado a travar-se, sobretudo, nos bastidores da República Islâmica.
A conclusão do Conselho dos Guardiães, de que eventuais irregularidades nas eleições eram menosprezáveis e não alteravam o resultado final, voltou a provocar os protestos dos candidatos derrotados. Mas a grande tensão ocorre agora no interior do próprios Regime e, designadamente, no seio da hierarquia religiosa.
Entre os contestatários de Ahmadinejad, mas principalmente do Guia Supremo Ali Khamenei, contam-se os antigos presidentes da República Mohamed Khatami e Ali Akbar Hachemi Rafsanjani e o Grande Ayatollah Hussein Ali Montazeri que é um Marja (Fonte de Imitação), autoridade máxima do islão xiita duodecimane, e que deveria ter sido o sucessor de Khomeini, não fora a sua contestação ao princípio de Velayat-e Faqih, que mantém uma confusão entre o religioso e o político, e em que se baseia a Constituição da República Iraniana. Entre estas personalidades decorrem conversações de alto nível, em que participa Jawad Al-Shahristani, representante do Grande Ayatollah Ali Al-Sistani, a máxima autoridade xiita do Iraque. O próprio presidente do Parlamento, Ali Larijani, embora acusando de interferência os Estados Unidos e o Reino Unido (de quem foram expulso dois diplomatas) tem assumido uma posição de ambiguidade, tudo fazendo crer que o poder de Khamenei sai substancialmente enfraquecido desta disputa eleitoral.
O desfecho mais provável da crise é, a curto prazo, uma solução de compromisso entre os protagonistas religiosos e, por acréscimo, os civis, para manter a imagem do país no estrangeiro e, de alguma forma, a nível interno, sossegar a população, através da adopção de medidas que respondam, ainda que de modo limitado, às reivindicações populares. A médio prazo, a hierarquia religiosa deverá impor a substituição de Khamenei por outra figura e, provavelmente, a própria substituição de Ahmadinejad. Mas estas mudanças dependem também da evolução da situação internacional e do xadrez político do Médio Oriente.
domingo, 21 de junho de 2009
ELEIÇÕES NO IRÃO IV
A situação no Irão permanece muito tensa em consequência da reeleição de Mahmud Ahmadinejad. As manifestações de ontem provocaram mais de dez mortos e dezenas de feridos só em Teerão e o clima está muito perturbado nas principais cidades do país. O apelo à calma de Khamenei não surtiu efeito e o mais importante candidato derrotado, Mir Hussein Musavi, desvalorizou a recontagem dos votos e insiste na anulação das eleições e na convocação de um novo escrutínio.
Assiste-se, assim, à primeira grande confrontação na República Islâmica, trinta anos após a revolução que derrubou a Monarquia. Insiste Ahmadinejad em acusar potências estrangeiras de interferência nos assuntos internos do Irão, o que não constitui propriamente uma surpresa (quer a acusação, quer a interferência) mas é um facto o mal-estar que se instalou no país.
Não pode o Regime convocar novas eleições, não só por uma questão jurídica (mera formalidade facilmente ultrapassável) mas porque seria a sua própria desautorização e fim. Nem se espera que a recontagem dos votos, mais ou menos significativa, possa alterar o resultado eleitoral.
Espera-se, contudo, uma progressiva alteração de algumas políticas, na ordem interna e mesmo na externa, que reduza o presente clima de hostilidade e possibilite uma abertura que os iranianos, especialmente os jovens, desejam e exigem.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
ELEIÇÕES NO IRÃO III
Complica-se a situação na República Iraniana, em consequência da contestação dos resultados das eleições que deram a vitória à primeira volta a Mahmud Ahmadinejad.
As manifestações dos últimos dias, não só em Teerão mas nas principais cidades iranianas, já averbaram muitos feridos e alguns mortos, além de inúmeras prisões. Mas não é só o resultado das eleições que está em causa, é principalmente o regime islâmico, inicialmente bem recebido após o derrube do Xá, mas que, com os anos, se tornou economicamente ineficaz e socialmente indesejável, sobretudo pela população mais jovem, como já escrevi neste blogue.
Também não é só a contestação de Ahamadinejad que leva os iranianos a cerrar fileiras em volta do principal candidato derrotado Mir Hussein Musavi, é também, e especialmente, a contestação do Guia Supremo, o Ayatollah Ali Khamenei.
Segundo informações recentes, o Hojatoleslam Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, que preside à Assembleia de Peritos (a quem compete a eleição e eventualmente a demissão do Guia) e ao Conselho de Discernimento, e que exerceu as funções de presidente da República de 1989 a 1997, estaria por detrás do apoio a Musavi e terá a pretensão de ascender ao cargo de Guia Supremo.
Aguarda-se, por isso, com expectativa, o que dirá Ali Khamenei no seu sermão de amanhã. sexta-feira. O mês de Junho tem sido pródigo em discursos considerados fundamentais para a política dos próximos tempos, como o de Obama, no Cairo, e o de Netanyahu, em Telavive.
Em qualquer caso, alguma coisa mudou no Irão, e o país, herdeiro da brilhante civilização persa, não voltará a ser o mesmo dos últimos trinta anos.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
A PAZ DE NETANYAHU
O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu proferiu no dia 15, na Universidade Bar-Ilan, em Telavive, um discurso aguardado com grande expectativa, na medida em que era considerado como a resposta ao discurso de Barack Obama, no passado dia 4, na Universidade do Cairo.
Numa alocução bem construída, Netanyahu, que começou por invocar os profetas de Israel, trouxe como única novidade ter-se referido, pela primeira vez, à constituição de um Estado Palestino, mas mediante condições que o próprio de antemão sabia serem insusceptíveis de aceitação por parte dos interessados.
Considera Netanyahu a possibilidade da criação de um Estado Palestino mas desmilitarizado: sem exército, sem o controlo do seu espaço aéreo, sujeito a medidas efectivas de segurança para impedir contrabando de armas e impossibilitado de estabelecer alianças militares.
Considera também que não há intenção de construir novos colonatos mas admite a extensão dos existentes a pretexto de razões de crescimento familiar. E que Jerusalém permanecerá una e indivisível como capital do Estado de Israel.
Considera, finalmente, que o problema dos refugiados terá de ser resolvido fora das fronteiras de Israel, já que Israel terá de continuar a existir como o Estado dos Judeus.
Propõe-se, ainda, Netanyahu negociar a paz com todos os países árabes que o desejem, mas exige o reconhecimento prévio de Israel. E, claro, recusa sentar-se a uma mesa em que estejam representantes do Hamas.
A tónica do seu discurso é posta numa melhoria das condições económicas dos territórios, favorecendo os palestinos, mas também os israelitas, aproveitando para tal a experiência bem sucedida dos países do Golfo.
Para além das sistemáticas rejeições enunciadas, nem uma palavra sobre o Muro, nem uma palavra sobre a ligação da Cisjordânia a Gaza, nem uma palavra sobre a circulação dos palestinos dentro da própria Cisjordânia, nem uma palavra sobre os direitos dos palestinos que vivem (como cidadãos de 2ª classe) em Israel, nem uma palavra sobre uma infinidade de matérias.
Por pressão de Obama, estava Netanyahu obrigado a referir-se ao Estado Palestino. Mas ao colocar as condições referidas, numa evidente manobra dilatória, procurou ganhar tempo, que é o que os israelitas têm feito ao longo das últimas décadas.
Voltou o primeiro-ministro israelita a invocar a História para reafirmar o direito dos Judeus à Terra de Israel, vinte séculos depois da Diáspora. E a relembrar as expulsões, pogroms, difamações e massacres que culminaram com o Holocausto. E regressa-se ciclicamente à questão: Quem chegou primeiro àquela região? E quantos anos de permanência garantem a posse?
Afinal, qual é a Paz de Netanyahu?
Decorridos sessenta anos sobre a proclamação do Estado de Israel, e atendendo à situação no terreno, não é naturalmente fácil encontrar-se, de súbito, uma solução conveniente. Mas todas as acções dos sucessivos governos israelitas têm tido por objectivo tornar essa solução cada vez mais difícil e distante. Nunca haverá paz com Muro (e, designadamente, com este Muro); não haverá paz com meio milhão de judeus vivendo nos colonatos, ainda que se possa admitir a manutenção de alguns colonatos em troca de terras; não haverá paz com a descontinuidade geográfica entre a Cisjordânia a Faixa de Gaza; não haverá paz com Jerusalém unificada como capital de Israel, ainda que se possa admitir que Jerusalém retome o estatuto de cidade internacional previsto na Resolução 181 das Nações Unidas, com Telavive como capital, que o é, de Israel e com uma outra cidade como capital da Palestina; não haverá paz sem uma solução justa para o problema dos refugiados, ainda que se admita como impossível que todos (ou seus descendentes) regressem à terra mãe.
Sobre tudo isto, não falou Benjamin Netanyahu.
Espera-se que a pressão internacional, não só da nova administração norte-americana, mas da União Europeia (ou de alguns países que a integram) e da Rússia, e porque não da Turquia, da China, ou mesmo da Índia, possa obrigar o governo israelita àquilo que, outrora denominado “dolorosas concessões”, é realmente o verdadeiro caminho para um autêntico processo de paz.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
ELEIÇÕES NO IRÃO II
As manifestações que agora se verificam fazem lembrar as que provocaram a queda do Xá, mas na realidade são diferentes e, de momento, nada indica o desmoronamento da teocracia iraniana. Contudo, e porque os tempos são outros e os acontecimentos mediatizados e as comunicações mais fáceis, a juventude, que constitui uma elevada percentagem da população, estará certamente farta dos rigores islâmicos e dos polícias que se ocupam da virtude alheia, que não da própria, presume-se! Para além da contestação à política interna (e externa) de Ahmadinejad, com a situação económica a deteriorar-se e a corrupção (lá como cá e um pouco por todo o lado, instalada) há uma contestação ao controle da vida privada, insuportável sobretudo para os jovens.
Este regime, a manter-se, terá de liberalizar um pouco os costumes. Se não o fizer, se pelo contrário acentuar a vigilância dos bassijis, então prevejo que não durará muito tempo.
sábado, 13 de junho de 2009
FERNANDO PESSOA
Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação
No dia do aniversário natalício do poeta de Mensagem, regista-se este excerto da sua prosa genial.
ELEIÇÕES NO IRÃO
Realizaram-se ontem eleições no Irão para a Presidência da República. Dois candidatos principais: Mahmud Ahmadinejad, Presidente ainda em funções, que se recandidata, e o antigo primeiro-ministro Mir Hussein Musavi.
Segundo as mais recentes notícias, Ahmadinejad terá ganho à primeira volta, com 60% dos votos expressos, numas eleições em que 80% da população participou no escrutínio, o que não deixa de ser interessante quando se procede à comparação com a taxa de abstenção na Europa.
O resultado não foi bem aceite pelos partidários de Musavi, que acusam Ahmadinejad de fraude eleitoral, e nas últimas horas têm-se verificado confrontos de rua entre a polícia e os manifestantes.
Herdeiro multissecular de civilizações brilhantes, o Irão foi conquistado pelos árabes no século VII e o zoroastrianismo substituído pelo islão. Ocupado por dinastias diversas e sucessivas, fruto da cobiça das grandes potências por causa do petróleo, transformou-se numa monarquia constitucional no princípio do século XX.
Em 1979, o Xá Muhamad Reza Pahlavi é deposto e tem início a Revolução Iraniana, conduzida pelo ayatollah Ruhollah Khomeini que assume o título de Guia Supremo, sendo o país convertido numa república islâmica em que o presidente da república, chefe do executivo pela inexistência de um primeiro-ministro, é a segunda figura do Estado. Esta dualidade de poderes não só é fonte de internos e secretos conflitos como causa de atritos protocolares nas relações com os outros Estados.
O Guia Supremo, actualmente Ali Khamenei, que sucedeu a Khomeini, é eleito pela Assembleia dos Peritos, o seu mandato é vitalício e pode demitir o Presidente; o Presidente da República é eleito de quatro em quatro anos por sufrágio universal. Existe ainda um Parlamento (Majlis) a quem compete o poder legislativo, um chefe do Poder Judiciário, que nomeia o Presidente do Supremo Tribunal e o Procurador Geral, a Assembleia de Peritos, o Conselho dos Guardiães e o Conselho de Discernimento, a que preside o antigo presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani.
Complicada a arquitectura política desta República Islâmica, que adoptou como lei fundamental a charia (a lei do islão, baseada no Corão e na Sunna), que contraria em tudo a política de ocidentalização (diga-se que acelerada e forçada) imposta pelo Xá Pahlavi.
A revolução de 1979, que impôs o exílio do Xá, foi inicialmente apoiada pela maioria da população mas veio a provocar um certo desencanto no país pelas medidas repressivas tomadas pelo clero (que se apoderou do regime), nomeadamente em matéria de costumes. Sendo já uma sociedade culta, evoluída, em larga medida familiarizada com os códigos ocidentais, sem que tal significasse uma renúncia às suas tradições ancestrais, a permanente vigilância dos Guardas da Revolução (os Pasdaran) e do Basij faz lembrar, num outro contexto a vigilância da Savak, a temível polícia secreta do Xá.
É evidente que a República Islâmica do Irão é uma aberração política como o foram e são todos os regimes que se reclamam do “direito divino”. Já vão longe (não tanto como isso) os reis “pela graça de Deus” e o mundo árabo-islâmico que trilhara durante décadas o bom caminho vê-se agora confrontado com monarquias anacrónicas, como a inefável Casa de Saud (por culpa de ingleses e americanos que traíram o Xerife de Meca, Hussein ibn Ali) e as monarquias do Golfo ou esta República Iraniana, instalada obviamente com a conivência ingénua dos Estados Unidos.
Sempre defendi que a religião é um assunto privado, nunca do foro estatal, e nada me incomoda o comportamento de qualquer cidadão, desde que não interfira com a minha liberdade individual e com a organização social laica do Estado. Por isso, quando no Ocidente se reprova o uso do hijab ou mesmo do niqab, já para não falar da burqa, não me repugna que haja mulheres que queiram usar tais vestes, desde que o façam de livre vontade, nem considero isso verdadeiramente um sinal de atraso cultural mas tão só o da manutenção de uma tradição antiquíssima. Outra coisa é serem obrigadas a usá-las tal como no Irão, por exemplo (e disso nunca se fala), os homens serem igualmente obrigados a não usar gravata, não lhes sendo também permitido rapar a barba. Tudo isto evoca tempos não muito distantes, em que o camarada Mão Zedong impôs a todos os chineses uma horrorosa veste uniformizada para milhões de seres, embora, nesse caso, talvez fosse melhor envergar aqueles trapos do que andar nu.
Nesta matéria, mais valiam os regimes laicos do Partido Baath, de Hafez al-Assad, na Síria e de Saddam Hussein, no Iraque, este último derrubado pela aliança anglo-americana, que numa acção criminosa e irresponsável provocou até hoje vários milhões de mortos, feridos, estropiados, desaparecidos e exilados e uma incomensurável destruição material que a História registará como um crime contra a Humanidade.
Outro caso diariamente discutido no Ocidente é o uso da energia nuclear iraniana e a possibilidade de construção de uma bomba atómica. Mera hipocrisia ocidental! Por um lado, não há a certeza de que as centrais nucleares do Irão se destinem a fins militares mas tão só à produção de energia para fins pacíficos, como os seus dirigentes apregoam, um tão vasto país carece e a Agência Internacional de Energia Atómica até agora confirma. Mas ainda que o Irão se pretenda dotar de armas atómicas, mais não faz do que imitar os seus vizinhos: Israel, o Paquistão, a Índia e a China. Quem define, e com que competência, quais os Estados que podem possuir a arma nuclear? Há Estados irresponsáveis capazes de lançar uma bomba atómica que destrua cidades e mate milhões de pessoas? Que eu saiba, o único país até hoje capaz de semelhante proeza foi os Estados Unidos da América! Aliás reincidente! Primeiro Hiroxima e depois Nagasáqui!!!
Aguardemos, pois, o resultado definitivo das eleições iranianas e o discurso político subsequente.
sexta-feira, 12 de junho de 2009
ANA ZANATTI
Interessante e lúcida a entrevista de Ana Zanatti. Ao reconhecer-se como homossexual, primeiro em cerimónia de apresentação do Movimento pela Igualdade e agora publicamente ao “Público” nesta entrevista de hoje, Zanatti evoca a sua vida de ocultação ao longo de 40 anos face a uma sociedade pretensamente aberta mas recheada de preconceitos que 35 anos de democracia não foram suficientes para eliminar.
As famílias “bem” consideram de bom-tom ter um amigo homossexual (desde que não seja seu filho, o que constituiria uma calamidade), que abrilhante as suas reuniões sociais. E as outras, modestas e de bairro, atreitas aos comentários das vizinhanças, expulsam muitas vezes os rapazes de casa, que as raparigas, essas, passam mais despercebidas aos olhos dos outros.
A homossexualidade como estigma vem de tempos antigos, imemoriais, da Torah judaica, que veio a ser incorporada no Antigo Testamento da Bíblia cristã, tendo a marca infamante transitado finalmente para o Corão muçulmano. Ainda hoje se está para saber se o castigo dos habitantes de Sodoma e Gomorra, referido no Génesis teve alguma coisa a ver com o exercício da homossexualidade, normal na Antiguidade, ou se a alusão à destruição das duas cidades bíblicas ficou registada nos “textos” antigos por razões de outra natureza.
A verdade é que a homossexualidade se tornou um pecado para as três religiões monoteístas e um ferrete, quando não um crime, para as sociedades que as adoptaram; pior do que isso, passada que foi a supremacia religiosa nas nações ocidentais, que não nas islâmicas, o preconceito social manteve-se, mesmo para os ateus mais convictos, o que prova a que ponto a influência religiosa penetrou no âmago da in(consciência) cívica.
Critica Ana Zanatti, na entrevista, algumas afirmações de Bento XVI contra a homossexualidade, mas é evidente que Ratzinger, preso ao dogma (e menos flexível que João XXIII ou Paulo VI) não poderia pronunciar-se favoravelmente sobre o tema; bem bastaram à Igreja outras questões dolorosas (algumas já esquecidas) como a condenação de Galileu. Mas poder-se-ia esperar que o Papa fosse mais discreto nesta matéria de costumes, conhecendo ele tão bem – homem culto que é – a longa caminhada da Humanidade.
Já se compreende menos bem a igualmente referida declaração do presidente do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos, que defendeu a ajuda médica para quem quisesse deixar de ser homossexual. Não sendo a homossexualidade uma doença (como acabou por ser internacionalmente reconhecido em 1973) só se compreende essa afirmação do facultativo como uma contribuição para angariar clientes para si ou para os seus colegas, que ainda existem por aí muitos incautos à solta!
Há, aliás, quem sustente que não se é homossexual mas se está homossexual, que não são as pessoas mas os actos que são homo ou heterossexuais, conforme os parceiros do momento, embora existam tendências prevalecentes que conduzem o indivíduo a aproximar-se mais para um ou outro lado. Infindável vexata quaestio que não é para debater neste lugar.
Por hoje, os parabéns para Ana Zanatti nesta sua luta pela Igualdade. Quanto aos casamentos same-sex, será assunto para outra ocasião.
quarta-feira, 10 de junho de 2009
NO DIA 10 DE JUNHO
Vi, nas televisões, a tropa - ou o que resta dela em nome da correcção política - a desfilar pelas ruas de Santarém em frente ao seu Comandante Supremo. A mesma Santarém da centenária Escola Prática de Cavalaria encerrada por causa da tagarelice da (falsa) "redução da despesa". À medida que o espectáculo decorria, os representantes das forças armadas encarregados de comentar o evento eram questionados pela jornalista (a da RTP, para variar, bem preparada) acerca das misérias que assolam os três ramos. A pompa e a circunstância não escondem as dificuldades a que nem o próprio Chefe de Estado se furtou no seu discurso. O fim do serviço militar obrigatório (SMO) representa um dos maiores disparates da decisão política oportunista nestes trinta e tal anos de regime. A passagem, ainda que efémera, de milhares de jovens portugueses pela "fileiras" nunca fez mal a ninguém. Pelo contrário. Se, como assinalou Cavaco, falta espírito de sobriedade, de missão e de mérito (não a meritocracia dos liberalóides e dos parvenus que "subiram" à custa do regime) à sociedade portuguesa, entre outras circunstâncias, à falta de um SMO se deve. Um SMO que incuta aos jovens um módico de responsabilidade e de disciplina, de respeito por quem se deve ter respeito e de compreensão pelo valor da verdadeira autoridade, aquela que é despojada de tiques autoritários mesquinhos e que se impõe por si mesma. As escolas estão no estado em que estão. As universidades, cheias de corvos bêbados, é o que se vê. "Esta é a ditosa Pátria minha amada"? Não tenho a certeza.
terça-feira, 9 de junho de 2009
OBAMA, ISRAEL E OS JUDEUS
Noticia o Nouvel Observateur da semana passada (Nº 2325) a criação de um novo lobby judaico nos Estados Unidos para contrariar o poderoso lobby existente, o AIPAC (American Israel Public Affairs Committee), o mais influente grupo de pressão e de interesses registado no Congresso.
Para constatar a influência do AIPAC registe-se que na sua convenção anual, realizada em Washington no princípio de Maio, estiveram presentes, além de Shimon Peres e de Benyamin Netanyahou (por vídeo), o vice-presidente dos EUA, John Biden, o anterior candidato à Presidência derrotado por Bush em 2004, John Kerry, mais de 300 senadores e representantes (democratas e republicanos) e embaixadores de 64 países. Esta extraordinária manifestação de força resultou de uma necessidade de afirmação do lobby israelita, no momento em que perde dois preciosos aliados na Casa Branca, George Bush e Dick Cheney, depois de um problema de espionagem protagonizado por um oficial americano a favor do Estado judaico e por ter sido o alvo de um livro publicado o ano passado e que se tornou num best-seller mundial, The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy, de John Mearsheimer e Stephen Walt.
Não é o AIPAC o único grupo de pressão e de defesa de interesses estrangeiros existente nos Estados Unidos, uma vez que este tipo de organizações é considerado legal. O que impressiona é o seu poder de condicionar a política externa norte-americana a favor de Israel, com prejuízo dos seus (dos EUA) próprios interesses.
Também é por demais evidente que o AIPAC alinha com as posições mais extremista do Estado judaico e essa será, porventura, a razão do aparecimento do novo lobby, o “J Street”, que contraria a linha dura do Likud e é favorável à solução do conflito israelo-palestiniano, com a criação de dois Estados na região. É igualmente um facto que muitos judeus americanos consideram que a influência do AIPAC junto do Congresso não só se tornou perigosa para os Estados Unidos como virá a resultar definitivamente negativa para o próprio Estado de Israel.
Numa altura em que Barack Obama enuncia e anuncia um virar de página nas relações com o mundo árabe e que Netanyahou ascendeu a primeiro-ministro, tendo como ministro dos Negócios Estrangeiros uma pessoa como Avigdor Lieberman, impunha-se uma alternativa ao apoio sempre dado pelo AIPAC à linha dura israelita. Será que o “J Street” poderá consubstanciar essa alternativa? Quando alcançará força para tal? E será sincero nas suas proclamações? Só o futuro será capaz de responder a estas questões.
Tudo isto nos remete para um problema mais vasto, mais complexo, mais antigo, mais profundo. Tem o povo judaico, como “povo eleito” que se considera, a tentação de controlar os Estados, senão, pelo menos, a de controlar a economia internacional. Não é preciso citar nomes nem exemplos. Essa a razão fundamental, quiçá a única, do mal-estar criado pelos judeus na Europa Central e de Leste nos últimos dois séculos. Não aceitando a ideia de povos superiores ou inferiores (untermenschen), escolhidos ou não, seria ridículo não reconhecer a preeminência de homens como Einstein, Freud, Thomas Mann, Marx, Zweig, Kafka, Chagall, Mendelsohn, Mahler, Schoenberg, Webern, Klimt, Chomsky, Kubrick ou Spielberg (apenas para citar alguns nomes), e do seu contributo para a Humanidade. Mas a atracção especial pelo dinheiro que tem caracterizado os judeus, não todos evidentemente (V. Jacques Attali, Les Juifs, le monde et l’argent), contribuiu para a caracterização de um comportamento que Shakespeare traduziu na personagem de Shylock do célebre Mercador de Veneza. E foi em parte essa convicção, profundamente enraizada na Europa Central, que permitiu a Adolf Hitler desencadear a perseguição nazi, sustentando que toda uma classe judaica controlava os destinos da Alemanha. E porque uma elite mosaica detinha poderosos interesses na República de Weimar, pôde o Reichkanzler, apoiado ou mesmo instigado pelos seus sequazes, levar a cabo uma política que terminaria numa guerra mundial que quase destruiu a Europa.
Creio que o combate à outrance por um novo predomínio dos judeus na cena internacional, em especial na defesa de um Estado israelita que apague do terreno e da História o Povo Palestiniano estará condenado ao fracasso e que a persistência de tal atitude acabaria por se voltar, num ciclo infernal, contra o próprio Povo Judaico. Se isso acontecesse, esperemos que não, se poderia então dizer que os judeus nada tinham esquecido e nada tinham aprendido. O que, para além de trágico, constituiria um enigma para a História.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
O BLOCO DE ESQUERDA
Parece evidente que o Bloco de Esquerda foi o autêntico vencedor das eleições europeias. Se é verdade que o PSD ganhou aritmeticamente as eleições e o PS as perdeu, se a CDU passou para quarta força política e o CDS para quinta, o BE, em terceiro lugar e com 3 deputados, foi quem averbou a vitória mais espectacular.
O resultado destas eleições não tem, para mim, nada de inesperado. O Partido Socialista, que já em tempos, com o Dr. Soares, metera o socialismo na gaveta, converteu-se numa força "situacionista" ancorada no bloco central de interesses, sem ideologia e sem ideias. Os apoiantes de Manuel Alegre, de quem, talvez por desatenção minha, não ouvi falar nas emissões televisivas, ou não votaram, ou votaram em branco ou no BE, que veio a capitalizar os partidários de um socialismo que já não se revê no PS. O Partido Comunista (com a habitual sigla CDU) continua mais ou menos arreigado à cartilha que em tempos lhe rendeu votos, mas, mesmo com mais alguma liberdade nos costumes, vai perdendo, pela lei da vida, os antigos votantes e não convence os novos; embora deva registar-se que o seu enfraquecimento tem sido mais lento do que se esperaria graças ao empenhamento dos seus militantes fiéis. O CDS aguentou-se, creio que graças a Nuno Melo e o PSD, o vencedor efectivo destas eleições, obteve um resultado modesto quando comparado com os seus tempos áureos, embora melhor do que o previsto atendendo à turbulência interna dos últimos anos.
Com uma abstenção superior a 60%, não só em Portugal mas por toda a Europa, estas eleições demonstram, como escrevi há dias, quão afastados estão os europeus desta União que pouco lhes diz, como pouco lhe dizem os partidos que arrecadam os votos, que têm certamente programas eleitorais, mas que pouco ou nada cumprem do que prometem. Na União Europeia, como nos países que a compõem, vota-se (quando se vota) mais por por exclusão de partes do que por convicção íntima.
Pode espantar que o Bloco de Esquerda (uma junção de partidos da extrema-esquerda) obtenha mais do que 10% dos votos em Portugal, mas o discurso do BE não é hoje um discurso de extrema-esquerda, tem abraçado o que entre nós ainda se costuma apelidar de causas fracturantes, mas que interessam, quer se queira quer não, a grande parte da população e mantém um discurso que. em circunstâncias normais, deveria ser o do Partido Socialista.
É bom este separar das águas porque contribui para a clarificação da situação política. Estou convencido de que os portugueses não querem, definitivamente, a reedição de um bloco central. Que se governe, pois, à esquerda ou à direita, ainda que estas noções sejam progressivamente mais confusas mercê da evolução dos tempos; ou pelo menos que se governe em função de claros programas de governo, sem invocação a posteriori de desculpas esfarrapadas para não cumprir as promessas eleitorais. Este Partido Socialista, a quem foi dada nas últimas legislativas uma maioria absoluta, cometeu erros inúmeros (e era bom que fossem só erros) e não se afigura capaz de inverter os resultados nos próximos actos eleitorais.
A Democracia, que é um sistema que fica caro aos cidadãos, exige que estes mereçam o respeito dos governantes. Assim deveria ser, assim deverá ser, mas não tenho a certeza daquilo que o futuro nos reserva!
Quanto aos outros países da Europa, não possuindo dados pormenorizados, abstenho-me de comentar. Ainda que pense que em Bruxelas, apesar da vitória dos partidos da "direita", se comece a repensar a União Europeia.