domingo, 3 de maio de 2009

MAHMUD DARWICH


MAHMUD DARWICH – Poeta e Resistente


O poeta Mahmud Darwich é uma das figuras mais notáveis da Palestina contemporânea. Personagem singular, Darwich conciliou a actividade intelectual (além de poeta foi prosador, ensaísta, jornalista) com a actividade de resistente contra a ocupação israelita, tendo-se tornado uma referência para o Médio Oriente. A sua poesia ultrapassou as fronteiras da geografia e tornou-se conhecida em todo o mundo árabe, que lhe conhece os versos e os recita de cor. A sua voz ergueu-se sempre, tanto através da escrita como na arena política, em defesa de uma Palestina independente, num combate em que lutou até aos seus últimos dias. Darwich, foi, de facto, durante a segunda metade do século XX, a voz e a consciência do Povo Palestino e o seu nome ficará indelevelmente registado na história da literatura e na história política, da Palestina e do Mundo.


Mahmud Darwich nasceu em Al-Birwa, uma aldeia da Galileia perto de São João d’Acre, então território sob mandato britânico, em 13 de Março de 1941. Após a criação do Estado de Israel, em 1948, a sua aldeia foi invadida e a família fugiu para o Líbano, onde permaneceu um ano. Quando regressaram a Israel, descobriram que a aldeia fora completamente arrasada e substituída por um colonato judaico. Instalaram-se, então em Deir Al-Assad, onde Mahmud frequentou a escola primária, tendo partido mais tarde para Haifa.


Publica o seu primeiro livro de poesia aos 19 anos: Asâfîr bilâ ajniha (“Pássaros sem asas”). Em 1964 começa a ser reconhecido a nível nacional, e mesmo internacional, como uma voz da resistência palestina com o livro Awrâq al-zaytûn (“Folhas de oliveira”), que inclui o célebre poema “Bilhete de identidade”. Continua a escrever poemas e artigos em jornais e revistas, é preso várias vezes pelos seus escritos e actividades políticas e, em 1970, parte para a União Soviética, onde frequenta a Universidade de Moscovo. Em 1971, trabalha no jornal Al-Ahram, no Cairo e, em 1973, dirige, em Beirute, a revista Shuun Filistiniyya (Assuntos Palestinos).


Ainda em 1973, Darwich adere à Organização de Libertação da Palestina (OLP), sendo, por isso, proibido de voltar a entrar em Israel. Em 1982 abandona Beirute, em consequência do bombardeamento israelita e exila-se no Cairo, depois em Tunis e por fim em Paris. Em 1987 é eleito para o comité executivo da OLP mas, na sequência dos Acordos de Oslo (1993), e como forma de protesto contra a atitude da OLP, que considerou demasiado conciliatória nas negociações, abandona a Organização. Finalmente, em 1996, Darwich é autorizado por Israel a instalar-se em Ramallah (Cisjordânia), onde se encontra o governo de Yasser Arafat. Com o cerco e ataque das tropas sionistas de Ariel Sharon a Ramallah, em 2002, muda-se para Amman, na Jordânia, embora volte algumas vezes aos Territórios Ocupados e a Israel. Em 2007, assiste, em Haifa, a uma sessão em sua honra organizada no Monte Carmelo pelo partido israelita Hadash (Frente Democrática para a Paz e a Igualdade) e pela revista Masharaf; aí discursa e lê poesia para milhares de pessoas. Doente cardíaco há longos anos, Darwich, realiza a sua última intervenção pública em 1 de Julho de 2008, em Ramallah, lendo poemas para uma vastíssima audiência, numa sessão que foi considerada a sua despedida dos palestinos.


Mahmud Darwich morreu em 9 de Agosto de 2008, com 67 anos, num hospital de Houston, nos Estados Unidos, na sequência de complicações decorrentes de uma delicada intervenção cirúrgica ao coração. Foi sepultado em Ramallah, junto ao Palácio da Cultura.


A obra de Darwich, composta por mais de 30 livros de poesia e de prosa, encontra-se traduzida em cerca de 40 línguas, e foi interpretada por diversos cantores, como o libanês Marcel Khalifa, que musicou e cantou vários dos seus poemas, entre os quais o famoso “À minha mãe”. No cinema, devem assinalar-se dois documentários: “Mahmoud Darwich, et la terre comme la langue”, realizado em 1997 para a televisão francesa por Simone Bitton e Elias Sanbar e “Écrivains des frontières”, realizado em 2004 por Samir Abdallah e José Reynes. Neste momento, está a ser produzido um filme sobre Darwich, da autoria de Nasri Hajjaj, em que o realizador recolhe depoimentos de diversas figuras da vida cultural internacional que privaram com o poeta, e que será estreado no primeiro aniversário da sua morte.


A terminar, duas afirmações de Mahmud Darwich:


- “Triunfámos sobre o plano para nos expulsarem da História”


- “Um povo sem poesia é um povo vencido”


1 comentário:

Anónimo disse...

Talvez que Darwich apreciasse,se pudesse ler português,o que outro poeta disse:
Para ser grande,sê inteiro:nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha,porque alta vive.