sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

FAUSTO NUM LAR DE IDOSOS

A ópera Faust, de Gounod, presentemente em cena no Teatro Nacional de São Carlos, é um espectáculo penoso, devido à moderníssima encenação do alemão Christof Loy. Segundo o programa, este senhor é actualmente um dos mais conceituados encenadores germânicos, convidado regularmente para os principais teatros líricos europeus. Não conheço outras encenações suas, mas a ideia de colocar o sábio Fausto num lar da terceira idade, e todo o enquadramento anacrónico que tal opção motiva, resultou, em minha opinião, num desastre total.

Apresentar Fausto numa cadeira de rodas, da qual cai arrastando-se pelo chão, de mãos trémulas, a babar-se, no meio de outros pacientes que sofrem ataques (epilépticos?), com macas, enfermeiros e suportes para soro e ao mesmo tempo um Mefistófeles que surge mais ou menos vestido de diabo, cantando todos um texto totalmente desajustado da acção que decorre no palco, é não só um espectáculo deprimente como um insulto à inteligência dos espectadores.

Aceito que algumas óperas possam ser cenicamente transportadas para a actualidade e temos assistido já a encenações realmente criativas, mas nem todas as óperas se prestam a isso, nem se pode aceitar o diletantismo de um encenador que só para fazer moderno apresenta a primeira fantasia que lhe vem à cabeça. Neste caso, o velho sábio alquimista, que Goethe imortalizou, nada tem a ver com o velhote internado num lar. Aliás, as cenas do lar não só são confrangedoras como atentórias da dignidade daqueles que, pelas voltas da vida, acabam os seus dias em casas de repouso.

Faço, assim, votos para que a administração e o director artístico do S. Carlos, aliás compatriota do encenador, não voltem a contratar o senhor Loy para qualquer outra encenação em Portugal e que se abstenham de apresentar produções deste jaez, cujo custo, que todos pagamos, não deverá ter sido pequeno. O canto ficou-se pela mediania e o próprio protagonista, o russo Andrej Dunaev, poderia ter sobressaído noutro tipo de encenação; por isso, os aplausos, no dia em que assisti ao espectáculo, foram escassos, quando comparados com os de outros Faustos ouvidos naquela casa.

NOTA: Este blogue privilegia os assuntos relacionados com o Médio-Oriente e com a civilização árabo-islâmica, mas não se coíbe de abordar quaisquer outros temas que o seu autor julgue de interesse.

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