Tinha decidido não escrever sobre o caso Freeport, mas porque os media dedicaram ao assunto a quase totalidade do seu espaço ou tempo, como se pouco ou nada mais existisse sobre o planeta, entendi alinhar alguns parágrafos.
Não conheço pessoalmente José Sócrates, nem sequer o vi alguma vez que não fosse na televisão, e do caso Freeport ignoro tudo, salvo o que vem aparecendo diariamente na comunicação social, e que se me afigura mais do domínio da especulação do que da realidade. Mas concordo que será conveniente averiguar, com rapidez, se Sócrates cometeu alguma falta, capital ou venial, ou se, pelo contrário, é alheio a todo este processo.
Este país vive, há anos, sob o signo de uma maldição informativa que se foca obsessivamente num assunto abstraindo de tudo o mais que existe à sua volta. Tivemos, por esta ou outra ordem, as armas de destruição maciça no Iraque (que, afinal não existiam, apesar de Durão Barroso ter garantido que sim), os voos da CIA com prisioneiros para Guantanamo, os pequenos da Casa Pia (que não eram assim tão pequenos) a pequena Esmeralda, a pequena Maddie, a pequena Joana, o pequeno Cristiano Ronaldo (que a avaliar pelas fotografias mais ousadas publicadas em certas revistas não é tão pequeno como isso), as contas e fraudes do BCP, do BPN, do BPP e de outros BB que porventura se lhe seguirão, a avaliação dos professores, o estatuto dos Açores, enfim, toda uma CÂMARA DE HORRORES donde ninguém sai vivo.
Será Sócrates culpado ou vítima de uma conspiração? Pode assacar-se a Sócrates uma evidente falta de cultura, entendida esta em sentido lato (não me refiro, obviamente, à questão da licenciatura, que é o que menos interessa; tivesse ele apenas a antiga 4ª classe e fosse um espírito humanista e isso bastava); uma arrogância quase patológica, o desvio do Partido Socialista para a "direita" (esvaziando e tornando inúteis os partidos à direita do PS e criando um vazio na área dita socialista); uma teimosia em manter decisões que se verificaram manifestamente erradas; e tantas outras considerações de que me abstenho, mas nada disto prova que seja corrupto.
Por outro lado, as peças dos jornalistas portugueses (classe que hoje se distingue pela ignorância, estupidez e convencimento dos arrivistas, com várias excepções honrosas que as há, algumas até nobilíssimas, daqueles que ainda fazem do jornalismo uma espécie de sacerdócio), derramam uma baba viscosa e repugnante, que se traduz, aqui como em situações anteriores, na condenação pública ante-judicial dos visados, numa subversão absoluta das regras democráticas.
É Portugal um espaço de tragédia e ensina a História que não é possível fugir à fatalidade do destino.
Sempre a liberdade tem acarretado libertinagem e só uma censura (mecanismo que sabemos como começa mas nunca como acaba) a pode controlar e travar.
Foi assim no período tumultuoso da Monarquia Constitucional, com o hiato da ditadura franquista e o desfecho que se lhe seguiu; na Primeira República, palco de inimagináveis convulsões e muito menos democrática do que hoje se pretende fazer crer e que, abstraindo o hiato de Sidónio, veio a terminar como se sabe, depois da renúncia digna embora tardia de Manuel Teixeira Gomes. Com Salazar chega uma nova ordem que dura meio século e traz sossego (por vezes à custa de elevado preço) mas Caetano, que percebia de Direito mas não consta que tivesse capacidade política, abre as portas à Revolução. A Terceira República evitou o sangue que não a corrupção, venceu as tentações totalitárias de sovietização, porque 1974 não era 1917 e Lisboa não era Petrogrado, mas acabou por cair, como aliás a Europa, nas malhas da globalização neo-liberal e é o que se vê.
Vai Sócrates beber a sua taça de cicuta? O futuro o dirá, mas registe-se um aviso à navegação: com esta comunicação social não chegaremos a parte alguma. Um sujeito insuspeito, o liberal Sir Karl Popper, preconizava, no fim da vida, a instauração de uma censura televisiva para obstar aos desmandos a que lhe era dado assistir. De facto, a violência que a televisão veicula ou certas entrevistas, em estúdio ou na rua, onde se pretende obrigar o entrevistado a dizer o que o entrevistador pretende, onde se tiram conclusões condenatórias, que afectam a vida de pessoas presumivelmente inocentes até eventual condenação judicial, justifica a adopção de medidas excepcionais, manu militari inclusive, enquanto é tempo. Senão, restar-nos-á, a nós portugueses e com referência a Portugal, dizer como o Dante, na Divina Comédia, às portas do inferno: "Deixai toda a esperança, vós que entrais"!
Não conheço pessoalmente José Sócrates, nem sequer o vi alguma vez que não fosse na televisão, e do caso Freeport ignoro tudo, salvo o que vem aparecendo diariamente na comunicação social, e que se me afigura mais do domínio da especulação do que da realidade. Mas concordo que será conveniente averiguar, com rapidez, se Sócrates cometeu alguma falta, capital ou venial, ou se, pelo contrário, é alheio a todo este processo.
Este país vive, há anos, sob o signo de uma maldição informativa que se foca obsessivamente num assunto abstraindo de tudo o mais que existe à sua volta. Tivemos, por esta ou outra ordem, as armas de destruição maciça no Iraque (que, afinal não existiam, apesar de Durão Barroso ter garantido que sim), os voos da CIA com prisioneiros para Guantanamo, os pequenos da Casa Pia (que não eram assim tão pequenos) a pequena Esmeralda, a pequena Maddie, a pequena Joana, o pequeno Cristiano Ronaldo (que a avaliar pelas fotografias mais ousadas publicadas em certas revistas não é tão pequeno como isso), as contas e fraudes do BCP, do BPN, do BPP e de outros BB que porventura se lhe seguirão, a avaliação dos professores, o estatuto dos Açores, enfim, toda uma CÂMARA DE HORRORES donde ninguém sai vivo.
Será Sócrates culpado ou vítima de uma conspiração? Pode assacar-se a Sócrates uma evidente falta de cultura, entendida esta em sentido lato (não me refiro, obviamente, à questão da licenciatura, que é o que menos interessa; tivesse ele apenas a antiga 4ª classe e fosse um espírito humanista e isso bastava); uma arrogância quase patológica, o desvio do Partido Socialista para a "direita" (esvaziando e tornando inúteis os partidos à direita do PS e criando um vazio na área dita socialista); uma teimosia em manter decisões que se verificaram manifestamente erradas; e tantas outras considerações de que me abstenho, mas nada disto prova que seja corrupto.
Por outro lado, as peças dos jornalistas portugueses (classe que hoje se distingue pela ignorância, estupidez e convencimento dos arrivistas, com várias excepções honrosas que as há, algumas até nobilíssimas, daqueles que ainda fazem do jornalismo uma espécie de sacerdócio), derramam uma baba viscosa e repugnante, que se traduz, aqui como em situações anteriores, na condenação pública ante-judicial dos visados, numa subversão absoluta das regras democráticas.
É Portugal um espaço de tragédia e ensina a História que não é possível fugir à fatalidade do destino.
Sempre a liberdade tem acarretado libertinagem e só uma censura (mecanismo que sabemos como começa mas nunca como acaba) a pode controlar e travar.
Foi assim no período tumultuoso da Monarquia Constitucional, com o hiato da ditadura franquista e o desfecho que se lhe seguiu; na Primeira República, palco de inimagináveis convulsões e muito menos democrática do que hoje se pretende fazer crer e que, abstraindo o hiato de Sidónio, veio a terminar como se sabe, depois da renúncia digna embora tardia de Manuel Teixeira Gomes. Com Salazar chega uma nova ordem que dura meio século e traz sossego (por vezes à custa de elevado preço) mas Caetano, que percebia de Direito mas não consta que tivesse capacidade política, abre as portas à Revolução. A Terceira República evitou o sangue que não a corrupção, venceu as tentações totalitárias de sovietização, porque 1974 não era 1917 e Lisboa não era Petrogrado, mas acabou por cair, como aliás a Europa, nas malhas da globalização neo-liberal e é o que se vê.
Vai Sócrates beber a sua taça de cicuta? O futuro o dirá, mas registe-se um aviso à navegação: com esta comunicação social não chegaremos a parte alguma. Um sujeito insuspeito, o liberal Sir Karl Popper, preconizava, no fim da vida, a instauração de uma censura televisiva para obstar aos desmandos a que lhe era dado assistir. De facto, a violência que a televisão veicula ou certas entrevistas, em estúdio ou na rua, onde se pretende obrigar o entrevistado a dizer o que o entrevistador pretende, onde se tiram conclusões condenatórias, que afectam a vida de pessoas presumivelmente inocentes até eventual condenação judicial, justifica a adopção de medidas excepcionais, manu militari inclusive, enquanto é tempo. Senão, restar-nos-á, a nós portugueses e com referência a Portugal, dizer como o Dante, na Divina Comédia, às portas do inferno: "Deixai toda a esperança, vós que entrais"!