«Les dieux n'étant plus et le Christ n'étant pas encore, il y a eu de Cicéron à Marc Aurèle un moment unique où l'homme seul a été.»
Gustave Flaubert
Em 1951, Marguerite Yourcenar (1903-1987) publicou Mémoires d'Hadrien, que se tornaria desde então um livro de culto para diversas gerações. Profundamente imbuída de cultura clássica, utilizando um estilo límpido como os céus da Grécia e sereno como as águas do Egeu, Yourcenar conta neste romance histórico a vida do imperador Adriano ou, mais propriamente, a vida que ela imaginou, ou gostaria que tivesse sido, a de Públio Élio Adriano (76-138), imperador de Roma de 117 a 138, célebre a muitos títulos, mas especialmente pela sua paixão pelo jovem favorito Antínos.
Esta obra de Marguerite Yourcenar foi traduzida pela primeira vez em português por Maria Lamas e publicada pela Editora Ulisseia, creio que nos anos 60, mas a data não consta do livro. Maria Lamas conhecera Yourcenar quando esteve exilada em Paris, e eu mesmo troquei rápidas palavras com a insigne escritora franco-belga, por ocasião da sua deslocação a Portugal para uma homenagem na Fundação Calouste Gulbenkian, em que intervieram, que me recorde, Agustina Bessa-Luís e David Mourão-Ferreira.
Refira-se que Marguerite Yourcenar foi a primeira mulher a ingressar na Academia Francesa, eleita em 1980 para ocupar a cadeira que pertencera a Roger Caillois.
O romance está escrito sob a forma de uma carta de Adriano dirigida ao jovem Marco (o futuro imperador Marco Aurélio), então com 17 anos, em que lhe descreve a sua vida e lhe prodigaliza conselhos sábios quanto à maneira como governar o Império.
Adriano e Eu (Museu do Vaticano) |
Convém precisar aqui alguns aspectos da História de Roma.
Após o assassinato de Domiciano, em 96, o Senado proclamou imperador um ancião ilustre, Nerva, bom administrador mas cujo reinado duraria apenas até 98, quando morreu de morte natural. Nerva, que devido a algumas pressões da Guarda Pretoriana nomeara como sucessor o general Trajano, foi considerado por Edward Gibbon, no seu livro História do Declínio e Queda do Império Romano (1776-1788), juntamente com os seus quatro sucessores, como os "cinco bons imperadores de Roma".
Trajano distinguiu-se especialmente na carreira militar, como o atesta a famosa Coluna Trajana, em Roma, e manteve próximo de si o seu jovem primo Adriano, a quem encarregou de importantes missões. E embora lhe tenha ofertado o anel que recebera de Nerva, nunca o designou oficialmente como sucessor. Quando regressava a Roma, já doente, depois de uma das muitas campanhas militares, Trajano morre no caminho, em 117. Surge então um documento, assinado pela imperatriz-viúva Plotina, declarando que Trajano adoptara Adriano, então com 40 anos. Alguns duvidaram da autenticidade da escolha, já que Trajano hesitara sempre quanto à designação de um sucessor, mas o Senado acabou por proclamar Adriano como imperador.
Adriano casou com Sabina, sobrinha-neta de Trajano, mas viveram sempre distantes e não tiveram filhos. Era aliás conhecido o pouco interesse de Adriano pelas mulheres e a sua permanente atracção pelos belos rapazes não só de Roma mas dos que povoavam as várias regiões do Império. Voltaremos aos favoritos mas regressemos agora à questão das adopções.
Não tendo filhos, Adriano resolvera nomear como sucessor Lúcio Élio Vero, que fora uma das suas paixões e o qual adoptara como filho. Porém, a morte prematura deste, pouco antes da própria morte de Adriano, obrigou o imperador a alterar os seus planos. Assim, designou em 138 como sucessor, meses antes de morrer, Antonino Pio, que também fora seu favorito, mas com a obrigação dele adoptar como sucessores Marco Ânio Vero (o futuro Marco Aurélio), seu parente próximo, e Lúcio Vero, o filho de Lúcio Élio Vero. Assim sucedeu e os dois vieram a reinar.
Antonino Pio foi imperador de 138 a 161. Depois, Marco Aurélio, de 161 a 180, e Lúcio Vero, de 161 a 169 (quando morreu vítima da peste). Tinham feito a primeira partição do Império, mais tarde oficializada por Diocleciano.
As principais fontes a que Marguerite Yourcenar recorreu para a composição do seu romance foram a História Romana, de Dion Cassius (155?-235?), e a Historia Augusta, de seis autores que adiante referiremos.
A História Romana, de Dion Cassius (Cassius Dio Cocceianus), historiador romano de expressão grega, começa com a fundação de Roma e termina no reinado de Alexandre Severo, isto é, abrangendo quase mil anos da história de Roma. Compunha-se de 80 livros de que chegaram aos nossos dias apenas os livros XXXVII a LX, ou seja de 68 AC até à morte de Cláudio em 54 DC. A obra integral foi utilizada no Império Bizantino até ao século XII, tendo uma parte dos volumes desaparecido depois com diversas pilhagens e o saque de Constantinopla. Conservaram-se alguns fragmentos e existem duas epítomes de autores bizantinos: a de Xiphilin, que abrange os livros XXXVI a LXXX (com a lacuna dos reinados de Antonino e de Marco Aurélio); e a de Zonaras, que abrange os livros I a XX e XLIV a LXVII, estando já perdidos no seu tempo os livros XXII a XXXV. A obra terá sido iniciada em 207 (ou 217, segundo outras fontes) e terminada cerca de 219, e poderá ter sido utilizada pelo autor da Historia Augusta, pelo menos em alguns episódios.
Existem algumas edições com os livros ou fragmentos dos livros da História Romana. O exemplar que possuo (edição bilingue, grego e francês, organizada por Étienne Gros, Paris, 1845) abrange fragmentos dos livros I a XXXVI, isto é, desde a fundação de Roma até às Guerras Púnicas. Não se encontrando editado nesta colecção o livro LXIX (a vida de Adriano), obtive o mesma num opúsculo (Hadrien) das edições Paleo, que inclui também a vida do imperador constante da Historia Augusta, redigida por Aelius Spartianus.
A Historia Augusta é uma das obras mais enigmáticas da Antiguidade. Trata-se de uma recolha de biografias dos imperadores romanos, mas com um tratamento diferente de outras obras do género, como a de Suetónio. E constitui a mais extensa fonte de informação relativa ao período considerado, isto é, de 117 a 285, com uma lacuna de dezasseis anos (244-260). Começa com a "Vida de Adriano" e acaba com a morte de Carus. Inclui trinta Vidas, sendo as primeiras individuais, depois, incluindo mais do que um imperador, voltando a ser individuais e acabando por voltar a ser colectivas. A obra é devida a seis escritores (scriptores), que sem terem trabalhado em equipa repartiram a tarefa entre si. Sabemos os seus nomes: Aelius Spartianus, Julius Capitolinus, Vulcacius Gallicanus, Aelius Lampridius, e após a interrupção, Trebellius Pollion e Flavius Vopiscus. O título da colectânea (Historia Augusta) é arbitrário. Foi-lhe atribuído pelo humanista protestante Isaac Casaubon, bibliotecário de Henrique IV, em 1603, numa das primeiras edições impressas. Ignora-se qual o verdadeiro título da obra quando foi "publicada" pela primeira vez, mas existem, todavia, outras designações utilizadas ao longo dos tempos. Não cabe no espaço deste post descrever as investigações sobre a sua génese, um debate que tem apaixonado os especialistas, especialmente nos últimos cem anos. Segundo as mais recentes pesquisas, a Historia Augusta terá sido escrita entre 390 e 400. O seu autor (há quem sustente, opinião hoje largamente partilhada, que os seis nomes serão o pseudónimo de uma única pessoa), conheceria já a História (Res Gestae), de Ammianus Marcellinus, pelo que este período é perfeitamente admissível.
Uma outra questão se coloca relativamente à Historia Augusta: porquê começar por Adriano? Tendo o autor declarado que tomou Suetónio por modelo, seria lógico continuar a obra deste, que termina com o reinado de Domiciano. Então, a obra deveria ter-se iniciado com Nerva e Trajano e só a seguir Adriano. Há quem afirme que existiria um primeiro fascículo desaparecido com as Vidas de Nerva e de Trajano, mas esta hipótese é pouco plausível. Para esta pergunta não existe resposta.
O plano e o conteúdo de cada Vida obedece às regras gerais em matéria de composição e o seu modelo é Vidas dos Doze Césares, de Suetónio, com algumas flutuações quanto à utilização de arquivos públicos ou privados.
O tratamento das Vidas da Historia Augusta pode agrupar-se da seguinte forma:
1) Vidas principais (até Caracala):
- Adriano (Aelius Spartianus)
- Antonino Pio (Julius Capitolinus)
- Marco Aurélio (Julius Capitolinus)
- Vero (Julius Capitolinus)
- Cómodo (Aelius Lampridus)
- Pertinax (Julius Capitolinus)
- Dídio Juliano (Aelius Spartianus)
- Septimio Severo (Aelius Spartianus)
- Caracala (Aelius Spartinaus)
2) Vidas secundárias:
- Élio (Aelius Spartianus)
- Avídio Cássio (Vulcacius Gallicanus)
- Pescénio Níger (Aelius Spartianus)
- Clódio Albino (Julius Capitolinus)
- Geta (Aelius Spartianus)
Adriano (Antigo Museu Greco-Romano de Alexandria) |
3) Vidas intermédias:
- Macrino (Julius Capitolinus)
- Diadumeniano (Aelius Lampridius)
- Heliogábalo (Aelius Lampridius)
- Alexandre Severo (Aelius Lampridius)
- Os dois Maximinos (Julius Capitolinus)
- Os três Gordianus (Julius Capitolinus)
- Máximo e Balbino (Julius Capitolinus)
4) O problema da lacuna
Entre 244 e 260 há uma lacuna em todos os manuscritos de que dispomos. Faltam as Vidas de Filipe, o Árabe e de seu filho homónimo (244 a 249), de Décio e de seu filho Hostiliano (249-251), de Treboniano Galo e Volusiano (251-253), de Emiliano (253) e do próprio Valeriano (253-260). Existem várias explicações, entre as quais a perda do caderno respectivo ou o facto de não terem sido escritas, mas é matéria que transcende os objectivos deste texto.
5) As últimas Vidas:
- Os dois Valerianos (Trebellius Pollion)
- Os dois Galianos (Trebellius Pollion)
- Os Trinta Tiranos (Trebellius Pollion)
- Cláudio, o Gótico (Trebellius Pollion)
- Aureliano (Flavius Vopiscus)
- Tácito (Flavius Vopiscus)
- Probo (Flavius Vopiscus)
- Quadriga dos Tiranos (Flavius Vopiscus)
- Caro, Carino e Numeriano (Flavius Vopiscus)
Adriano (Antigo Museu Greco-Romano de Alexandria) |
Antonino Pio (Palácio Altemps, Roma) |
A Historia Augusta que estou a consultar, estabelecida pelo professor André Chastagnol, um especialista da Antiguidade, é uma edição bilingue (latim e francês) de quase mil e quatrocentas páginas, dotada de um vasto aparato crítico. As referências anteriores pretenderam apenas dar uma ideia da organização do livro, pelo que passarei de imediato para a Vida de Adriano, que é, neste caso, o que verdadeiramente interessa.
Ao escrever a vida de Adriano, Yourcenar reconstrói aquilo que para ela foi, ou deveria ter sido, a vida do imperador Publius Aelius Hadrianus, desde o nascimento até próximo da morte, sob a forma de uma carta endereçada a Marc (Marco Aurélio), então com 17 anos, seu protegido e sobrinho de Antonino Pio, a quem sucederia depois da sua morte. Antonino, que sucedeu imediatamente a Adriano, era sobrinho deste, sendo filho de Rupilia Faustina, irmã de Vibia Sabina, a mulher de Adriano.
Adriano (Palácio Altemps, Roma) |
A carta é um "testamento" de Adriano, em que este dá conselhos ao seu futuro sucessor e traça a sua biografia, os seus sucessos não isentos de revezes, as suas virtudes mas também as suas misérias, a efemeridade da glória. Como disse acima, Marguerite Yourcenar baseou-se na história real sem renunciar naturalmente à efabulação, sempre que tal convinha à economia do romance e também para suprir lacunas ou aspectos da vida do imperador historicamente menos bem documentados.
Marguerite Yourcenar concebeu e escreveu parcialmente Mémoires d'Hadrien entre 1924 e 1929. Recomeçou-o em 1934, com sucessivas interrupções até 1937. Nova pausa entre 1937 e 1939. Projecto abandonado de 1939 a 1948. Quando em 1948 recebe nos Estados Unidos, onde passara a viver, uma mala com papéis que deixara na Europa, antes da Guerra, reencontra o manuscrito do futuro livro. Uma visita à Villa Adriana, nas proximidades de Roma, decide-a finalmente a concluir a obra, que será publicada em 1951 e traduzida depois em numerosas línguas.
Só a leitura do livro permite que nos apercebamos da grandeza da obra. Mas importa consignar algumas referências, nomeadamente à paixão de Adriano por Antínos, assunto predilecto de Yourcenar e que tem sido objecto do estudo dos maiores historiadores. Aliás, sobre Antínos e as suas relações com Adriano existe uma obra muito bem documentada, Beloved and God, de Royston Lambert, cuja apreciação reservaremos para uma outra oportunidade.
Antínos, (Palácio Altemps, Roma) |
Segundo os dados de que dispomos, Antínos terá nascido na Bítinia no ano 110 (112 para alguns especialistas) e morreu no Egipto em Outubro de 130. No seu livro, Lambert descreve o encontro do imperador com o rapaz e de como este se tornou o mais importante dos seus favoritos, o seu amante predilecto, acompanhando-o em todas as expedições. Antínos morreu afogado no rio Nilo, durante uma das estadas de Adriano no Egipto, em condições não completamente esclarecidas. Não parecendo provável que tivesse sido assassinado, prevalece hoje a tese de que se tratou de um suicídio, talvez um suicídio ritual, já que ambos haviam sido iniciados nos mistérios de Elêusis. O jovem terá sacrificado a sua vida ao imperador, talvez para obter para este o favor dos deuses, ou, segundo outra tese (uma vez que atingira os vinte anos e começara a perder os seus encantos, segundo o modelo pederástico grego), teria entendido que a sua carreira como catamita terminara. O seu corpo foi encerrado num caixão de cedro, como era próprio dos faraós e, como escreve Yourcenar no seu livro (p. 237-8) «...les prêtres égyptiens avaient fait graver sur le cercueil d'Antinoüs: Il a obéi à l'ordre du ciel.»
Antínos (Museu Capitolino, Roma) |
O desgosto de Adriano foi indescritível. Algumas semanas após a morte do rapaz, o imperador decretou a sua deificação, instituiu o seu culto e mandou construir uma cidade com o seu nome perto do lugar onde ele se afogara, Antinópolis, próximo de Hermópolis, na actual região de Minya. Ordenou também que se erguessem centenas de estátuas e dezenas de templos por todo o Império. Nas escavações das últimas décadas na Villa Adriana foram encontradas as ruínas de um templo dedicado a Antínos.
Panteão de Roma (Mandado construir por Marcus Agrippa, durante o reinado de Octávio César Augusto, e profundamente restaurado por Adriano) |
Doente e fatigado, também devido à grande insurreição dos judeus na Palestina, a terceira guerra judaica-romana, desencadeada por Adriano se ter oposto à circuncisão dos jovens, o imperador decidiu por fim regressar à Itália, fundamentalmente por duas razões: «Je me disais que seules deux affaires importantes m'attendaient à Rome; l'une était le choix de mon successeur, qui intéressait tout l'empire; l'autre était ma mort, et ne concernait que moi.» (p. 270). Os seus amigos julgavam-no entretanto restabelecido, mas: «Mes amis s'émerveillaient d'un rétablissement en apparence si complet; ils s'efforçaient de croire que cette maladie n'était due qu'aux efforts excessifs de ces années de guerre, et ne recommencerait pas; j'en jugeaient autrement; je pensais aux grands pins de Bithynie, que le bûcheron marque en passant d'une entaille, et qu'il reviendra jeter bas à la prochaine saison. Vers la fin du printemps, je m'embarquais pour l'Italie sur un vaisseau de haut bord de la flotte; j'emmenais avec moi Céler, devenu indispensable, et Diotime de Gadara, jeune Grec de naissance servile, rencontré à Sidon, et qui était beau.» (pp. 269-70). Céler e Diotime foram os últimos favoritos do imperador: «Je fis durant ce dernier séjour à l'armée une renconter inestimable: je pris pour aide de camp un jeune tribun nommé Céler, à qui je m'attachai. Tu le connais; il ne m'a pas quitté. J'admirais ce beau visage de Minerve casquée, mais les sens eurent somme toute aussi peu de part à cette affection qu'ils peuvent en avoir tant qu'on vit. Je te recommande Céler: il a toutes les qualités qu'on désire chez un officier placé au second rang; ses vertus mêmes l'empêcheront toujours de se pousser au premier. Une fois de plus, j'avais retrouvé, dans des circonstances un peu différentes de celles de naguère, un de ces êtres dont le destin est de se devouer, d'aimer, et de servir. Depuis que je le connais, Céler n'a pas eu une pensée qui ne soit pour mon confort ou ma sécurité; je m'appuie encore à cette ferme épaule.» (p. 257)
Adriano e Eu (Museu Capitolino, Roma) |
As guerras com os judeus apoquentaram os últimos anos do reinado de Adriano. Yourcenar descreve os pretextos utilizados pelos zelotas para perturbar a Pax Romana: «Enfin, ce même Tinéus Rufus, homme par ailleurs fort sage, et qui n'était pas sans s'intéresser aux fables et aux traditions d'Israël, décida d'étendre à la circoncision, pratique juive, les pénalités sévères de la loi que j'avais récemment promulguée contre la castration, et qui visait surtout les sévices perpétrés sur de jeunes esclaves dans un but de lucre ou de débauche. Il espérait oblitérer ainsi l'un des signes par lesquels Israël prétend se distinguer du reste du genre humain. Je me rendis d'autant moins compte du danger de cette mesure, quand j'en reçus l'avis, que beaucoup des Juifs éclairés et riches qu'on rencontre à Alexandrie et à Rome ont cessé de soumettre leurs enfants à une pratique qui les rends ridicules aux bains publics et dans les gymnases, et s'arrangent pour en dissimuler sur eux-mêmes les marques. J'ignorais à quel point ces banquiers collectionneurs de vases myrrhins différaient du véritable Israël.» (p. 253)
Adriano (Museu Arqueológico, Roma) |
«... En principe, le Judaïsme a sa place parmi les religions de l'empire; en fait, Israël se refuse depuis des siècles à n'être qu'un peuple parmi les peuples, possédant un dieu parmi les dieux. (...) Aucun peuple, sauf Israël, n'a l'arrogance d'enfermer la vérité toute entière dans les limites étroites d'une seule conception divine, insultant ainsi à la multiplicité du Dieu qui contient tout; aucun autre dieu n'a inspiré à ses adorateurs le mépris et la haine de ceux qui prient à de différents autels.» (pp. 253-4) «Un aventurier sorti de la lie du peuple, un nommé Simon, qui se faisait appeler Bar Kochba, le Fils de l'Étoile, joua dans cette révolte le rôle de brandon enduit de bitume ou de miroir ardent.» (p. 254) «Je ne le nie pas: cette guerre de Judée était un de mes échecs. Les crimes de Simon et la folie d'Akiba n'étaient pas mon oeuvre, mais je me reprochais d'avoir été aveugle à Jérusalem, distrait à Alexandrie, impatient à Rome.» (p. 258) «Le courrier du soir venait de m'apprendre que nous nous étions rétablis sur le tas de pierres éboulées que j'appelais Aelia Capitolina et que les Juifs nommaient encore Jérusalem; nous avions incendié Ascalon; il avait fallu exécuter en masse les rebelles de Gaza... Si seize ans du règne d'un prince passionnément pacifique aboutissaient à la campagne de Palestine, les chances de paix du monde s'avéraient médiocres dans l'avenir.» (p. 259) «La Judée fut rayée de la carte, et prit par mon ordre le nom de Palestine. (...) La remise en état du pays suivit immédiatemment les travaux de la guerre; Aelia Capitolina fut rebâtie, à une échelle d'ailleurs plus modeste; il faut toujours recommencer.» (p.269)
O actual Castel Sant'Angelo, mandado construir por Adriano para lhe servir de mausoléu |
Castel Sant'Angelo (Local destinado à urna com os restos mortais de Adriano) |
Nos seus "Carnets de notes" incluídos no fim do livro, Yourcenar escreve (pp. 342-3): «Le 26 décembre 1950, par un soir glacé, au bord de l'Atlantique, dans le silence presque polaire de l'Île des Monts Déserts, aux États-Unis, j'ai essayé de revivre la chaleur, la suffocation d'un jour de juillet 138 à Baïes, le poids du drap sur les jambes lourdes et lasses, le bruit presque imperceptible de cette mer sans marée arrivant ça et lá à un homme occupé des rumeurs de sa propre agonie. J'ai essayé d'aller jusqu'à la dernière gorgée d'eau, le dernier malaise, la derniére image. L'empereur n'a plus qu'à mourir.» E: «Ce livre n'est dédié à personne. Il aurait dû l'être à G. F..., [Grace Frick, a companheira de Marguerite Yourcenar] et l'eût été, s'il n'y avait une espèce d'indécence à mettre une dédicace personelle en tête d'un ouvrage d'où je tenais justement à m'effacer.»
Antínos (Museu de Pergamon, Berlim) |
Antínos (Glyptothek, Munique) |
Adriano (Glyptothek, Munique) |
Antínos (Hermitage, São Petersburgo) |
A vida de Adriano, como Marguerite Yourcenar bem o demonstra e a História regista, é um assunto inesgotável. Também a sua paixão por Antínos se revelou um tema universal. Não o permite o espaço, nam as minhas forças, prosseguir com mais considerações, já que a todos é acessível o livro de Yourcenar, e para os mais interessados a consulta de algumas fontes. Pretendi apenas chamar a atenção para este momento extraordinário da história da antiga Roma e consignar alguma iconografia, da imensa que existe sobre o Imperador e o seu bem-amado Favorito.
Antínos (Museu Arqueológico Nacional, Atenas) |
Adriano (Museu Arqueológico Nacional, Atenas) |
Adriano (Museu Arqueológico Nacional, Nápoles) |
Antínos e Eu (Museu Arqueológico Nacional, Nápoles) |
Muita coisa fica por escrever, mas agora, já sem paciência para procurar fotos de outros museus por onde passei, me despeço deste post.