|
"O Príncipe dos Lírios" (Fresco do Palácio de Cnossos, hoje no Museu Arqueológico de Herakleion) |
Não é possível falar de Creta, que hoje faz parte do território da Grécia, sem uma breve alusão à história milenária da ilha. Habitada desde cerca de 6000 AC, os seus primeiros ocupantes terão vindo da Ásia Menor, durando a Época Neolítica até 2600 AC. A esta sucedeu a Idade do Bronze, a que Arthur Evans chamou Época Minoica, em homenagem a Minos, rei de Creta, cujo célebre palácio em Cnossos aquele notável arqueólogo descobriu ao fim de porfiadas escavações.
|
Fortaleza de Koules, em Herakleion (Designação aliás pleonástica, já que a palavra grega 'koules' deriva do turco 'kule' que significa precisamente fortaleza) |
A Época Minoica durou de 2600 a 1100 AC. Engloba quatro Períodos: Pré-Palacial (2600-1900 AC), Proto-Palacial (1900-1700 AC), Neo-Palacial (1700-1350 AC) e Post-Palacial (1350-1100 AC). Os historiadores consideram ainda um Período Sub-Minoico (1100-1000 AC), que coexiste com o Período Proto-Geométrico (1100-900 AC), resultante da chegada a Creta de vagas dóricas maciças. Este último período representa a entrada de Creta na parte propriamente grega da sua história.
|
Fortaleza de Koules (Vista do lado da cidade) |
Até às escavações que puseram à vista os palácios de Cnosso e de Phaistos pouco se conhecia da Época Minoica, que permanecia mais no domínio da lenda do que da história. Permaneciam as alusões mitológicas e havia referências nos textos de Homero, Tucídides, Platão e Aristóteles. É um facto que a ilha se encontra numa posição particularmente favorável, quer para o domínio dos mares, quer para o desenvolvimento de uma grande civilização. Situada entre três continentes, aqui se encontraram e assimilaram três raças diferentes e as correntes culturais da Europa, da África e da Ásia, criando um novo modo de vida, uma nova concepção do mundo e uma forma de arte que ainda hoje surpreende pela sua frescura, a sua graça, a sua variedade e a sua mobilidade. A mistura de raças é atestada pelos diferentes tipos de crânios encontrados nas escavações. De uma maneira geral, os minoicos podem ser incluídos na "raça mediterrânica", de estatura média, cabelos negros e olhos castanhos. Não se conhece a sua língua, pois ainda não foi possível decifrar os seus escritos. Todavia, parece tratar-se de uma categoria distinta das línguas mediterrânicas. Mais tarde, depois de 1450 AC, quando os aqueus se instalaram em Creta, a língua oficial que pouco a pouco a substituiu era uma forma muito arcaica do grego. Arthur Evans descobrira várias tabuinhas de argila em Cnossos, contendo três escritas que ele apelidou de "lineares". Duas ficaram conhecidas por Linear A e Linear B; a terceira é identificada como pictográfica ou hieroglífica cretense. A Linear B foi decifrada por Michael Ventris e, ao contrário do que Evans estava convencido, não era uma língua minoica mas sim uma língua helénica.Os eteocretenses (os verdadeiros cretenses) continuaram a falar o minoico, como atestam as inscrições encontradas em Creta oriental e que datam dos VI e V séculos AC. Esta escrita minoica, a Linear A, sem qualquer relação com a língua grega, continua por decifrar.
|
Fortaleza de Koules (Vista do lado do mar - Na muralha, o Leão de S. Marcos) |
Homero sabia que os habitantes de Creta eram de raças distintas, citando cinco: pelasgos, eteocretenses, cydonianos, aqueus e dórios, e que todos falavam uma língua diferente. Sabia também que Creta era extremamente povoada, com cerca de 100 cidades, das quais citava o nome de algumas. As escavações deram razão a Homero, quando foram descobertos numeroso centros minoicos, entre os quais quatro de grande sumptuosidade, os palácios de Cnossos e de Phaistos e também os de Malia e Zakros.
|
Basílica de S. Marcos (Hoje utilizada como galeria de arte) |
É no Período Pré-Palacial que se começa a utilizar o bronze para fabricar utensílios e armas. Sabe-se que já se construíam casas de pedra e tijolo e que se usava o estuque vermelho para revestir as paredes. A economia assentava na agricultura, na pecuária, nos transportes marítimos e no comércio.
|
Basílica de S. Marcos (Interior) |
No Período Proto-Palacial o poder é reunido nas mãos dos reis. Criam-se então os centros palaciais com grande influência cultural nas regiões adjacentes. As escavações põem a descoberto os palácios de Cnossos, Phaistos, Malia e Zakros. A cerâmica conhece um novo desenvolvimento, bem como a ourivesaria. Surgem os santuários no cume das montanhas. O panteão minoico é acrescido mas continuando a ter como centro a divindade mãe. Nos arquivos dos palácios constata-se que a escrita hieroglífica começa a ser substituída pela escrita linear. Por volta de 1700 AC uma terrível catástrofe, talvez um terramoto, destrói os palácios e as habitações dos cretenses.
|
Catedral de S. Minas |
É no Período Neo-Palacial que a civilização minoica atinge o seu apogeu. São construídos novos palácios, muito mais sumptuosos, sobre as ruínas dos antigos. As cidades são reconstruídas e estendem-se por toda a ilha, desenvolvendo intensa actividade. A economia floresce em todas as suas vertentes. A arte atinge aspectos de grande magnificência e intensificam-se as trocas marítimas com o mundo civilizado da época. A dimensão e esplendor dos palácios, que não cabe aqui descrever, é de inusitada grandiosidade. Refira-se, apenas, que o Palácio de Cnossos ocupa uma área de 22 km quadrados e possui 1.500 divisões e que a sua decoração é magnífica. O sistema social era provavelmente de tipo feudal e teocrático, sendo o rei de cada centro palacial igualmente o chefe religioso. É possível que tenha havido uma hierarquia destes reis grandes-sacerdotes, de que o soberano de Cnossos constituía o topo. Graças a este sistema a ilha conheceu um longo período de paz - a famosa
Pax Minoica - que tornou possível um prodigioso desenvolvimento cultural, um modo de existência imbuído de finura e de alegria de viver, e o domínio dos mares. A escrita hieroglífica foi substituída pelo sistema linear A. Os textos que chegaram até nós, cerca de 200, estão escritos na língua minoica, que ainda nos é desconhecida, em tabuinhas de terracota. O Disco de Phaistos apresenta um texto único, em caracteres hieroglíficos, pertencendo ao começo deste período. A escritura hieroglífica teria contudo subsistido sendo utilizada pelos sacerdotes nos textos religiosos. Por volta de 1450 AC uma terrível erupção vulcânica na ilha de Santorini, a cerca de 100 km a norte de Creta, cuja intensidade se repercutiu em toda a bacia do Mediterrâneo, terá destruído esta brilhante civilização.
|
Catedral de S.Minas (Interior) |
Após a grande destruição a vida reaparece em Creta com a chegada dos aqueus, por volta de 1350 AC, que constroem simples palácios micénicos. Entramos no Período Post-Palacial. A presença desta dinastia, que fica sediada no Palácio de Cnossos, entretanto reconstruído, é atestada pela língua grega arcaica escrita em linear B, e por um novo estilo de cerâmica. Os aqueus espalham centros por toda a ilha, mas esta nova civilização revela-se muito empobrecida face à brilhante civilização minoica. A última fase desta época é um período de grande decadência e perturbações, devido ao movimento geral dos "povos do mar" no Mediterrâneo oriental. É nesta altura que chegam a Creta os primeiros dórios, como atestam novos elementos culturais, como a incineração dos mortos, armas e utensílios de ferro, e novos motivos geométricos.
|
Catedral de S. Minas (Interior) |
Com as vagas maciças de dórios que aportam à ilha cerca de 1100 AC, Creta entra no período Proto-Geométrico que se estende até 900 AC e que coexiste com o que designamos por período Sub-Minoico que dura até 1000 AC. A tradição cultural cretense continua a resistir em certas regiões, nomeadamente nos centros montanhosos eteocretenses.
|
Igreja de S. Tito |
Durante o Período Geométrico (900-600 AC), tem lugar a organização das cidades-estados da Creta dórica, com o estabelecimento de um regime político semelhante ao que vigorava em Esparta e com o mesmo sistema de recrutamento militar dos jovens. As relações com o Egipto favorecem o desenvolvimento de novas expressões artísticas, com influência na escola cretense "dedálica", cuja criação é atribuída ao herói lendário Dédalo.
|
Igreja de S. Tito (Interior) |
É, todavia, na Época Arcaica (650-500 AC) que a arte dedálica conhece o seu apogeu, ainda que isso represente o último brilho da arte propriamente cretense. O espírito militarista e sobretudo as guerras que começam a opor as cidades-estados de Creta conduzem rapidamente à decadência cultural. A maior parte dos artistas emigra para o continente, contribuindo para a criação do milagre grego.
|
Igreja de S. Tito (Relíquias do santo) |
Durante a Época Clássica (500-330 AC), Creta permanece cortada do resto da Grécia. Não participa nas Guerras Médicas e mantém-se neutral na Guerra do Peloponeso. Acentua-se o antagonismo entre as cidades, pouco propício à actividade artística. Verifica-se, contudo, que é nesta época que a numismática atinge o seu apogeu.
|
Fonte de Morosini |
A Época Helenística (330-69 AC) é marcada pela continuação da luta ente as cidades cretenses, agora aliadas a cidades gregas, ou dos reinos helenísticos do Egipto e do Oriente. A intervenção de forças estrangeiras e o desenraizamento das populações após a destruição das suas cidades pelo inimigo é uma das razões que leva numerosos cretenses a alistarem-se nos exércitos estrangeiros.
|
Loggia veneziana |
O Período Greco-Romano (69 AC-330 DC), inicia-se com o desembarque perto de Cydonia (ou Kydonia) de uma frota romana comandada pelo cônsul
Quintus Caecilius Metellus em 69 AC, que, após três anos de combate, conquista toda a ilha. Creta torna-se uma província romana com a capital em Cnossos, mais tarde transferida para Gortys (ou Gortyna). Sob o reinado de Augusto, Creta é unida administrativamente à Cirenaica. As autoridades locais continuam a existir a título honorário mas o poder é exercido nas cidades pelos representantes romanos, dependentes do pretor sediado na capital. Este longo período de paz - a famosa Pax Romana - permitiu grandes construções e um importante desenvolvimento da estatuária. Cnossos foi dotada de numerosas casas romanas e há vestígios de necrópoles e cisternas monumentais desta época.
|
Loggia veneziana |
A Época Bizantina - Período A (330-824) decorre do facto administrativo de Creta ter sido, em 330, separada da Cirenaica e anexada à Ilíria. Com a morte de Teodósio I (395) e a divisão definitiva do Império Romano, a ilha ficou a pertencer ao Império Romano do Oriente ou Império Bizantino.O cristianismo desenvolveu-se muito cedo em Creta. O apóstolo Tito, companheiro do apóstolo Paulo, instalou-se em Gortyna e a partir daí organizou a igreja e instalou sacerdotes nas principais cidades, que constituíram mais tarde os primeiros bispados. Existem ruínas de basílicas paleocristãs em Panormo, Vyzari, Cnossos, Hersonissos, Gortyna, Olus, Sitia, Falasarna, Kissamos e Elyros. A partir do século VII a ilha começa a ser objecto dos ataques dos árabes, que se tinham tornado uma força marítima, tendo o norte de África e a Síria como base de operações. A paz foi igualmente perturbada pela questão dos iconoclastas, tendo os cretenses tomado o partido dos iconólatras, contra Leão III.
|
Mosteiro de S. Pedro e S. Paulo (Em reconstrução) |
A Ocupação Árabe (824-961) começa com o desembarque dos árabes vindos de Espanha sob o comando de Abu Hafs Omar I que queima os barcos para obrigar os seus soldados a lutarem com todas as suas forças para conquistarem a terra onde "correm o leite e o mel". Os cretenses opõem denodada resistência mas acabam por ser vencidos. Os árabes constroem a sua capital no local da actual Herakleion e rodeim-na de fortificações e de fossos profundos. Foi por causa do fosso ( خندق, em árabe) que a cidade tomou o nome de Khandaq, que subsistiu até ao século XIX sob a forma veneziana de Candia. As igrejas foram demolidas ou transformadas em mesquitas e os cretenses obrigados a converter-se ao islão. A ilha tornou-se um antro de piratas e um mercado de escravos. Os bizantinos esforçaram-se diversas vezes por reconquistar Creta mas foi só em 961 que o general Nicéforos Focas, comandando consideráveis forças terrestres e navais, e após um cerco a Khandaq que durou meses, conseguiu vencer e aniquilar os árabes, massacrando uns e reduzindo os outros à escravidão. Nada restou da cidade, cujos muros foram arrasados e não existem quaisquer vestígios da ocupação árabe, à excepção de uma série de moedas com o nome dos emires.
|
Biblioteca Municipal |
O Período B da Época Bizantina (961-1212) caracterizou-se por devolver a Creta o seu carácter helénico e a sua religião. As mesquitas voltaram a ser igrejas e os convertidos ao islão regressaram ao cristianismo, como é de tradição no vaivém religioso. O general Focas pretendeu transferir a capital para o interior da ilha, mas confrontado com a oposição da população viu-se obrigado a reconstruir Khandaq, que continuou como sede do governo e da metrópole episcopal, que se tornou conhecida entre os habitantes como Megalo Kastro (Grande Castelo). Em 1182 foram enviados novos colonos pelo imperador Alexios II Comneno, a quem foram distribuídas grandes propriedades e que originaram uma nova aristocracia cretense. Quando em 1204 o Império Bizantino se desmoronou face à ofensiva dos Cruzados (as Cruzadas constituem dos mais negros episódios da história da Humanidade), os seus territórios foram distribuídos pelos respectivos chefes. O novo imperador (latino) deveria ter sido Bonifácio de Monferrato mas os venezianos, por razões políticas, optaram por escolher Balduíno da Flandres, tendo Creta sido atribuída a Bonifácio que preferiu permanecer em Salónica (como rei), cedendo a ilha aos venezianos por 1.000 thalers de prata. Entretanto, os genoveses anteciparam-se aos venezianos e, sob as ordens de Enrico Pescatore, conde de Malta, desembarcaram na ilha. Construíram fortes nos pontos estratégicos e repararam as muralhas de Khandaq, conseguindo resistir às investidas venezianas até 1212.
|
Sanitários públicos junto à Fortaleza (Uma utilidade que vai desaparecendo na Europa "civilizada") |
Durante a Ocupação Veneziana (1212-1669), Creta foi dividida em três, e depois em quatro regiões, que correspondem grosso modo aos departamentos actuais. Khandaq, ou Candia, permaneceu como capital da ilha, que passou a designar-se Reino de Candia. Aqui se instalou o duca, com o seu conselho e o bispo latino. Os habitantes puderam permanecer ortodoxos, o clero inferior não foi perseguido, nem se tocou nos mosteiros ou nas suas fortunas, mas a igreja de Creta ficou acéfala, já que o arcebispo e os bispos ortodoxos foram obrigados a abandonar a ilha. Os pesados impostos e a atribuição de grandes propriedades aos soldados e aos colonos venezianos provocaram uma longa série de revoluções, especialmente durante os primeiros séculos da dominação veneziana, com as consequentes e violentas repressões. Com o tempo, invasores e súbditos chegaram a um entendimento nesta terra devastada. O extraordinário poder de assimilação de Creta e também interesses comuns levaram a uma "união" entre os antigos habitantes da ilha e os "novos cretenses" contra a soberania de Veneza. E Creta proclamou-se autónoma em 1363 sob a designação de Democracia de São Tito, mas foi rapidamente obrigada a submeter-se à metrópole. Todavia, as sublevações continuaram e a ilha foi igualmente flagelada por sismos, incursões de piratas e epidemias. Apesar de todas estas calamidades, Creta alcançou nesta época um importante desenvolvimento cultural. Com a tomada de Constantinopla pelos turcos (1453), a visão do Império desvaneceu-se para os cretenses, que se aproximaram de Veneza, que no seu espírito tomou de alguma forma o lugar de Constantinopla, tornando-se agora a sua verdadeira capital. Novamente Creta, como o fora na Antiguidade, vai contribuir para uma nova civilização europeia. Megalo Castro, o nome porque é agora conhecida a cidade de Khandaq, torna-se lugar de acolhimento a refugiados, mestres de filosofia, de teologia e de retórica, e também um centro de cópia de manuscritos gregos, trazidos de Constantinopla e difundidos em Itália pelos sábios bizantinos. Na "tipografia" de Aldo Manuzio, o cretense Marcos Moussouros, "o homem mais culto do seu tempo", imprime as obras de Sófocles, Eurípides, Platão e Aristóteles. Ao mesmo tempo, Zacharias Kallerghis cria a primeira "tipografia" propriamente grega e publica o Grande Dicionário Etimológico da Língua Grega, que constituiu uma contribuição de primeiro plano para os estudos gregos em Itália. O Renascimento europeu também faz sentir a sua influência em Creta, com o reaparecimento da poesia e do teatro. A literatura grega moderna tem as suas fontes neste desenvolvimento das letras cretenses. A pintura religiosa renova-se pela assimilação de elementos ocidentais e os ícones cretenses são procurados em todo o mundo ortodoxo. Citem-se os famosos pintores Damaskinos, Théophanis o Cretense, Emmanuel Tzanès, Bounialis e, especialmente, Doménikos Theotokópoulos (El Greco) que nasceu em Fodele (a 27 km da capital) em 1541, e aí fez, na juventude, a aprendizagem da sua arte. A arquitectura dos últimos anos da dominação veneziana deixou também uma herança rica em Creta, atribuindo a toda uma cidade ou região características inspiradas nos modelos ocidentais. Distinguem-se as fortificações, como a de Megalo Castro (Herakleion), que envolvia toda a cidade e era a maior do Mediterrâneo oriental, ou a Fortezza, em Rethymno, abrangendo a zona habitacional. O Megalo Koules (conhecido inicialmente como Castello a Mare), foi o mais impressionante de todos os portos venezianos e as suas muralhas ainda hoje resistem às vagas do mar. Também subsistem em Herakleion, a basílica de São Marcos (hoje transformada em galeria de arte), a igreja de S. Pedro e S. Paulo (em reconstrução), a
loggia veneziana (recentemente reconstruída), ou a célebre fonte de Morosini (ou dos Leões). E pode admirar-se as magníficas portas de alguns palácios venezianos no Museu Histórico de Creta. Assim, os dois elementos da população da ilha (os cretenses originários e os vindos de Veneza) reconciliaram-se na arte, na literatura, na língua, e até na religião, durante o período final da ocupação veneziana. Em breve se encontrariam frente a um inimigo comum, os turcos, que se tornavam cada vez mais ameaçadores.
|
Igreja católica de S. João Baptista |
O começo da Dominação Turca (1669-1898) teve lugar com a tomada da capital pelos otomanos comandados pelo grão-vizir (albanês) Köprülü Fazil Ahmed Pasha, após 21 anos de cerco de Candia (iniciado em 1648), e da ocupação do resto da ilha desde 1645. Os cercados foram autorizados a partir em barcos venezianos, transportando os bens que puderam e os objectos de culto. Veneza conservou três fortalezas: Gramboussa, Souda e Spinalonga. Os turcos confiscaram os bens públicos e privados e obrigaram os cristãos a converter-se, ainda que muitos se tenham refugiado nas fortalezas venezianas e nas montanhas, onde se tornaram o terror dos ocupantes. Começou, assim, uma resistência organizada, sobretudo contra os janízaros que, por vezes ao arrepio das próprias autoridades turcas, exerciam um poder altamente repressivo na ilha. A revolução grega de 1821 encontrou Creta pronta para combater e decidida a adquirir a sua liberdade. Distinguem-se duas fases: a primeira, que durou até 1824, quando forças egípcias chamadas pelos turcos esmagaram os revolucionários após batalhas sangrentas; a segunda, iniciou-se com um movimento de revolta em Gramboussa que se estende com sucesso a toda a ilha, até 1830, altura em que os turcos estavam literalmente encerrados nas suas fortalezas. O reconhecimento da independência da Grécia (1832) não incluiu Creta, que seria vendida pelo sultão, por 20 milhões de marcos, a Mehemet Ali, khediva do Egipto. E, em 1840, Creta voltou às mãos dos turcos, mas as sucessivas revoltas, com a ajuda não oficial da Grécia, conseguiram melhorar as condições de vida dos cretenses. Os turcos foram obrigados a conceder uma Lei Orgânica aos cretenses, em que o poder seria exercido por cristãos e muçulmanos. Em 1897, após um massacre de cristãos, verificou-se a intervenção oficial da Grécia, que provocou uma guerra entre este país e a Turquia. As circunstâncias e as grandes potências (na altura ainda não se utilizava a designação de "comunidade internacional") forçaram os cretenses a aceitar o estatuto de independência sob a protecção do sultão (1898). Foi nomeado alto-comissário o príncipe Jorge da Grécia
|
Café-Bar La Brasserie (O único café abertamente gay em Herakleion) |
O Período de Autonomia (1898-1912) foi marcado por diversas sublevações contra as potências ocupantes e pela vontade de união à Grécia. A cidade de Candia foi rebaptizada com o nome de Herakleion (cidade de Hércules), em memória do porto romano de Heracleum, cuja localização exacta é desconhecida, e tornou-se, em 1971, a capital de Creta, em substituição de Chania (ou Hania, ou Caneia).
|
Café-Bar La Brasserie |
Em fins de 1912, após a eclosão da guerra greco-turca, o cretense Venizelos, primeiro-ministro grego, declarou aos representantes cretenses que a ilha passava a fazer parte do Reino da Grécia, decisão concretizada em 1913.
|
O porto de Herakleion |
Em Maio de 1941, Creta foi atacada pela aviação alemã, travando-se duros confrontos entre os paraquedistas germânicos e o que subsistia da população cretense, uma vez que os seus militares tinham sido enviados para combater na Albânia. Esta ocupação terminou em Outubro de 1944.
|
Montra de uma livraria na Rua Korai, em Herakleion (Na primeira linha do expositor, um livro com a fotografia de Cavafy) |
Este resumo da história de Creta, certamente muito sintético dado que essa história tem mais de 4.000 anos, destina-se tão só a fornecer um panorama da vida acidentada da simpática ilha. Mesmo assim, e eliminando aspectos que teria gostado de sublinhar, tenho a consciência de que me alonguei. Os leitores que me desculpem.
NOTA: As imagens referem-se à cidade de Herakleion.