segunda-feira, 17 de agosto de 2015

ANTEVISÃO DAS PRESIDENCIAIS




Há já longas semanas que as candidaturas para eleição do Presidente da República vêm ocupando o espaço público. Com o anúncio, o pré-anúncio, a sugestão de diversos candidatos e pré-candidatos e a possibilidade da existência de muitos mais.

Para facilitar as coisas, diremos que à direita ainda ninguém se pronunciou formal ou informalmente, dando-se como possíveis as candidaturas de Marcelo Rebelo de Sousa, Rui Rio, Pedro Santana Lopes ou Alberto João Jardim. À esquerda, apresentaram-se formalmente António Sampaio da Nóvoa e Henrique Neto, o primeiro com o apoio explícito dos três antigos presidentes da República, Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio, o apoio do Partido Livre  e o suposto apoio do Partido Socialista, e o segundo, que conheço pessoalmente e por quem nutro alguma estima, sem qualquer apoio e sem a mínima possibilidade de êxito, diria mesmo de conseguir concretizar a sua candidatura.

Surge agora o pré-anúncio da candidatura de Maria de Belém Roseira, susceptível de congregar alguns apoios na máquina socialista (dos sectores considerados mais à direita) e de, até por ser mulher, colher votos não só em eleitores socialistas mas em mulheres sem qualquer opção ideológica mas que poderão apressar-se a votar numa mulher por simples solidariedade sexual.

Não sei, naturalmente, qual será a decisão do Partido Socialista quanto ao apoio de uma candidatura na sua área. Será difícil, depois de todos os sinais ostensivamente manifestados, tirar o tapete a Sampaio da Nóvoa, não só pelo que significaria a desautorização dos três antigos chefes de Estado (que manifestaram a sua adesão no pressuposto do apoio oficial do PS a Sampaio da Nóvoa), como pelo tumulto que tal decisão causaria no interior do Partido e no seu próprio eleitorado tradicional. De resto, nesta altura, mesmo sem o apoio do PS, Sampaio da Nóvoa certamente avançará.

Por outro lado, também me parece perturbante o Partido Socialista apoiar um candidato apartidário em detrimento de uma militante do Partido, ainda que, em minha opinião, Nóvoa tenha para a função um perfil muito mais adequado que Belém. Poderá acontecer que António Costa resolva não envolver oficialmente o PS na campanha, para evitar uma opção difícil, acabando por fornecer mais ou menos discretamente o seu apoio a Sampaio da Nóvoa, e evitando hostilizar a candidatura de Maria de Belém. Em qualquer caso, vamos confrontar-nos com o Partido Socialista dividido, numa altura em que importava colocar em Belém alguém que pudesse remediar os estragos provocados pelo actual incumbente, de resto visivelmente diminuído, e restaurar o prestígio da função presidencial.

Também a coligação PSD/CDS terá problemas, mais especificamente o PSD, caso Marcelo avance a contra-gosto de Passos Coelho, que preferiria Rui Rio, existindo ainda as hipóteses Santana Lopes e Jardim. Também aqui se poderá prefigurar um não apoio a uma candidatura específica. Isto é, estaremos a breve trecho, se os dados não se alterarem, perante a hipótese de os dois maiores partidos, por excesso de candidatos, não apoiarem qualquer deles.

Abstenho-me de falar de candidatos marginais ao sistema, já anunciados ou que venham a surgir, mas não é possível ignorar que o Partido Comunista Português apresentará como habitualmente o seu candidato para figurar numa 1ª volta e que, na 2ª, desistirá a favor do candidato mais bem colocado para derrotar a "direita".

A manter-se até à data das eleições um cenário semelhante ao que acabo de descrever, parece-me ser possível concluir que a manutenção de Sampaio da Nóvoa e de Maria de Belém numa 1ª volta levará, (independentemente de quem forem os candidatos ditos da direita), a um fraccionamento do eleitorado socialista, não sendo de excluir, embora me pareça improvável, que Belém pudesse vir a receber mais votos do que Nóvoa.

Assim sendo, estaríamos confrontados com um cenário em que um putativo candidato da "direita" disputasse a 2ª volta com Maria de Belém, para muitos uma também representante de um certo "socialismo de direita", que tem em Francisco Assis e João Proença, apoiantes dessa candidatura, dois curiosos corifeus.

Não me espantaria, portanto, que o PCP desistisse do seu potencial candidato ainda antes da realização da 1ª volta, aconselhando o seu fiel eleitorado a votar em Nóvoa. E que este, que já recebeu o apoio expresso do Livre, colhesse à 1ª volta o apoio do Bloco de Esquerda e mini-partidos afins. Além do que, admito também que o PDR, de Marinho e Pinto, possa apoiar Nóvoa na primeira volta.

O caso do PSD é de mais fácil resolução, já que os possíveis contendores são todos de filiação social-democrata. No caso do PS, em que se dava como único candidato um Nóvoa apartidário, a aparição de Maria de Belém veio baralhar os dados, com notório prejuízo para o partido e, eventualmente, para a esquerda em geral. Não me parece que a candidatura de Maria de Belém, ao provocar uma fractura na esquerda, sirva a democracia (já nem falo no socialismo, que é coisa que os sectores mais liberalizantes do PS detestam). As candidaturas deveriam ser decididas em função de projectos e não de ambições pessoais Na maior parte dos casos, é o contrário que se verifica.

Por isso, chegámos onde chegámos, não só em Portugal mas um pouco pela Europa. É triste mas é verdade.

Todavia, como estamos ainda a meio ano das eleições presidenciais, e as legislativas, cujos resultados não são indiferentes para as presidenciais, ocorrem dentro de pouco mais de um mês, muito água ainda poderá correr sob as pontes. E mesmo sobre as pontes...

Por isso, só nos resta esperar.
 

1 comentário:

Abraham Chevrollet disse...

Todos sabemos que sempre existiu e existe uma maioria social de esquerda. Vejamos como esta canalha vai mais uma vez miná-la. E depois queixam~se da abstenção...