sexta-feira, 22 de maio de 2015

O "NABUCCO" EM VIENA




A Wiener Staatsoper apresenta esta temporada a sempre apreciada ópera Nabucco, de Verdi. No espectáculo de 14 deste mês, a que assisti, interpretaram os principais papéis Željko Lučić, em Nabucco (que alternava, quiçá vantajosamente, com Plácido Domingo, agora regressado a barítono), Carlos Osuna, em Ismaele (e que se estreava neste papel na Ópera de Viena), Michele Pertusi, em Zaccaria (substituindo Mikhail Kazakov, por motivo de doença), Monika Bohinec, em Fenena e Maria Guleghina, em Abigaille, um fantástico desempenho, entusiasticamente aplaudido pelo público.


A Orquestra, cuja direcção esteve a cargo do conhecido e vetusto maestro Jesús López Cobos, emprestou ao espectáculo o brilho requerido, tal como se verificou com a magnífica actuação do Coro. Outro tanto não se poderá dizer da encenação de Günter Krämer, pretensamente moderna, retirando à ópera a sua contextualização bíblica para a converter, honni soit qui mal y pense, num demagógico espectáculo de propaganda sionista, em que os escravos hebreus foram ostensivamente transformados nos judeus que eram conduzidos aos campos de concentração nazis. Além de um "cenário" inexistente, de um guarda-roupa confrangedor e de uma iluminação improvável.


Compreendo que Viena tenha necessidade de exorcizar periodicamente os seus fantasmas, que continuam a assombrar a cidade, não obstante, desde 1938, terem já decorrido quase 80 anos sobre a delirante aclamação do Führer na Heldenplatz. Mas, com intuitos políticos ou mesmo sem eles, não vale a pena estragar uma obra de arte com o pretexto de renovar as produções, a maior parte das vezes de forma gratuita e até ridícula. São poucas as óperas e menos ainda os encenadores capazes de apresentar um tema clássico num contexto moderno. Costumo recordar, a propósito, a encenação de Der Ring des Nibelungen, de Wagner, em Bayreuth, em 1976-1980, por Patrice Chéreau, mas este caso é praticamente ímpar na história das produções operáticas.


É tempo de correr dos teatros líricos com os pretensiosos encenadores "modernos" e de restituir às óperas a dignidade que lhes foi conferida durante décadas, sob pena de tornar incompreensíveis os espectáculos, como sucede habitualmente nestes casos, onde a letra do texto (agora, ainda para mais, projectada em legendas electrónicas) nada tem a ver com a acção que se desenrola sobre as tábuas do palco.





Nota: o frontão da Ópera, onde figura, inscrito a letras de ouro, o nome de Francisco José I, encontra-se tapado, como se pode ver na foto, por uma espécie de barracão de lona ou de papelão, fazendo propaganda à ópera para crianças (Oper für Kinder).



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