segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O FIM

Tripoli - Praça Verde

Segundo as últimas notícias, as forças revoltosas terão finalmente tomado Tripoli, celebrando a vitória na famosa Praça Verde. Chegou ao fim o regime de Muammar Qaddafi, que, devido a um golpe de estado, se encontrava há 41 anos no poder, dispondo de uma autoridade absoluta, disfarçada de democracia directa, alicerçada no célebre Livro Verde de sua autoria e apoiada nos equilíbrios tribais.

Tripoli - Castelo e trens de aluguer

A Líbia de Qaddafi, ao contrário da maioria dos outros países árabes, nunca foi um Estado, no sentido político do termo, mas um conglomerado de organizações, dispondo de influências próprias e defendendo interesses particulares, subordinadas à vontade do coronel que, há quase meio século, derrubou a dinastia Al Senussi e se tornou numa personalidade de referência no mundo árabe, chegando a disputar a liderança do mesmo após a morte de Nasser. Não o conseguindo, voltar-se-ia depois para a África, promovendo a criação da União Africana, uma imitação nunca concretizada da União Europeia.

Qaddafi e Obama

Informam as agências noticiosas que a batalha de Tripoli provocou mais de 1.300 mortos, além de milhares de feridos, encontrando-se os hospitais sem possibilidade de acudir a todos os que necessitam dos seus cuidados.

Qaddafi e Blair

Tripoli e muitas outras cidades líbias apresentam um elevado grau de destruição; muitas zonas do país encontram-se devastadas. Esta intervenção militar da NATO, aliás como as anteriores intervenções militares no Afeganistão e no Iraque, deixa atrás de si um mar de ruínas. E, parafraseando um famigerado estadista britânico, já morto, um rasto de "sangue, suor e lágrimas".

Qaddafi e Sarkozy

Foi sempre evidente que o regime de Qaddafi era despótico e cruel, que as mínimas liberdades não estavam asseguradas, que os líbios, na generalidade, não usufruíam das riquezas do país e que os trabalhos mais duros eram realizados por jovens negros da África subsahariana, miseravelmente pagos. Tal não impediu, porém, que o coronel fosse cortejado pelos "grandes" deste mundo, sem qualquer ponta de vergonha, a começar pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, uma das figuras mais repelentes da cena internacional. Aliás, os mesmos que agora o atacaram e provocaram a sua queda. Esta atitude não deve causar surpresa já que, como toda a gente sabe, na política contam apenas e só os interesses, a moral não existe, e as amizades e solidariedades não passam de uma farsa.

Qaddafi e Berlusconi

Segundo a Al-Jazira, os filhos de Qaddafi, Seif Al-Islam e Muhammad, foram detidos, ignorando-se ainda o paradeiro do Guia da Revolução, que ainda ontem se dirigiu, pela rádio, ao país, apelando á vitória sobre os insurrectos.

Ao fim de seis meses de guerra, chega hoje ao fim a longa ditadura de Muammar Al-Qaddafi. E começa a governação do Conselho Nacional de Transição, que não terá pela frente uma tarefa fácil. Cabe-lhe instaurar um regime democrático, segundo o que no Ocidente se designa por democracia. E realizar eleições. Preferencialmente em paz. Trabalho ciclópico em que não acreditamos. Cabe-lhe igualmente a reconstrução do país. E promover a reconciliação dos irmãos desavindos.

O exemplo dos outros países árabes, que foram governados ditatorialmente durante décadas, e que agora aspiram à "democracia", não augura nada de bom.

2 comentários:

lawrence disse...

Algo que me tem feito alguma confusão.
Estando a trabalhar no Médio-Oriente, a minha fonte de informação preferencial é a BBC News.
Há uns tempos atrás, o Iemen era informação quase ao minuto e de repente desapareceu do ar.
Ficou tudo bem de repente por lá depois de tanta agitação e mortes ou alguém fechou a torneira da informação?

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

PARA LAWRENCE:

Não sei onde está a trabalhar no Médio Oriente, mas quer a BBC, quer as outras fontes de informação, tais como a Al-Jazira, têm dedicado agora menos tempo ao Iémen, a favor de outros países mais agitados como a Líbia ou a Síria. É tudo uma questão de marketing.

Claro quer as coisas no Iémen não estão bem, como o não estão em outros países árabes. Mas as notícias preferem as situações mais agitadas. Voltarão ao Iémen quando precisarem dele.