domingo, 25 de abril de 2010

A REVOLUÇÃO DE ABRIL


O golpe de Estado de 25 de Abril de 1974, de que hoje se comemora o 36º aniversário, e que haveria de consubstanciar uma Revolução, mais ou menos pacífica mas profundamente transformadora das estruturas políiticas e sociais vigentes, foi um momento empolgante para a maioria esmagadora dos portugueses, à excepção, óbvia, dos partidários incondicionais do Antigo Regime.

Atrever-me-ia a dizer que os portugueses, todos os portugueses, imaginaram o seu 25 de Abril. de acordo com as suas aspirações, as suas convicções, as circunstâncias em que o mesmo se verificou. E dai as desilusões e frustrações que desde os primeiros dias se acumularam nos seus  corações. As injustiças que se cometeram em nome da Justiça, os aproveitamentos políticos e partidários de que muitos beneficiaram em detrimento da maioria, as ambições desmesuradas, os erros, as traições, as ingenuidades, as loucuras, e até o desencanto que progressivamente se apoderou de parte da população não contribuiram para o almejado sucesso. Não pretendo fazer o inventário do pós- 25 de Abril, que ao longo destes anos foi elaborado centenas de vezes por pessoas habilitadas de todos os quadrantes políticos.

Se os desígnios da Providência são insondáveis, também o são os caminhos do Futuro.

Passadas quase quatro décadas, ficou-nos a Democracia (imperfeita, é certo, como são, por natureza, todas as democracias) e a Liberdade (cada vez mais condicionada por razões de toda a ordem). Foi realizada uma Descolonização (que António José Saraiva classificou de "debandada de pé descalço"), mas talvez dificilmente pudesse ter sido de outra forma, tal o apetite das potências estrangeiras pelos nossos territótios africanos. Criaram-se serviços de saúde e sistemas de segurança social que apenas estavam esboçados no tempo do Estado Novo. Para o bem e para o mal ingressámos na União Europeia. Mas não se desenvolveu o País. Salvo excepções, fizeram-se mais obras de fachada do que se assegurou um real incremento do chamado "tecido produtivo". E a educação (ou a instrução, se preferirmos) que era deficiente e tendenciosa no antigamente, desmoronou-se qual castelo de cartas. Basta ver os inenarráveis concursos televisivos para se constatar que a ignorância cultural e a iliteracia triunfaram. Mas o mal não é só português, percorre um pouco toda a Europa e até o Mundo. Julgo eu que intencionalmente. Aumentaram escandalosamente as desigualdades sociais, cavou-se desmedidamente o fosso entre ricos e remediados, já não falo dos pobres, que, com excepções, pobres continuam. Mas no conjunto, teremos de constatar que vivemos globalmente melhor do que há meio século. Em termos comparativos, também seria difícil que assim não fosse.

E vivemos numa sociedade globalizada, com as vantagens (algumas) e os inconvenientes (muitos) que advêm de tal situação. Uma sociedade mais perigosa do que aquela em que vivíamos nos anos da chamada Guerra Fria.

Apesar de todas as reticências, parece que valeu a pena a Revolução de Abril. Afinal, o regime anterior estava esgotado e alguma coisa teria de acontecer, mais tarde ou mais cedo. Poderia ter sido melhor? Talvez! Poderia ter sido pior? Também é possível! A História não permite ensaios laboratoriais.

Nas confusões destes 36 anos, homens houve que se distinguiram pela sua isenção, honestidade, sentido do serviço público, desapego dos bens terrenos, vontade de melhorar a vida dos mais desprotegidos da sorte, confiança num verdadeiro progresso (esta palavra é hoje tão perigosa) espiritual e material. É para eles, já mortos ou ainda vivos, que vão as nossas homenagens.

1 comentário:

Anónimo disse...

Alem deste,a ler tambem a crónica de hoje de VPV no Público,e a extensa entrevista de António Barreto ao D.N.
Concordando com alguns pontos deste post,limitar-me-ia às observações seguintes:
A descolonização deveu-se fundamentalmente ao esgotamento do esforço militar,que não ao tal apetite das potências pelos territórios.Aliás só dois territórios eram de facto geo-estratègicamente relevantes,Angola e Moçambique. E só uma potência,que eu saiba,se aproveitou de ambas,e até das outras como sobremesa,ou seja a União Soviética,que fornecia o treino militar e ideológico,o apoio financeiro,e até os mercenários cubanos quando foi necessário. Mas mesmo assim é verdade que em 1974 a guerra estava ganha em Angola ,mas as complicações em Moçambique e Guiné mantinham-se e a tropa com toda a razão via que não se ia a lado nenhum,nem sequer tinha apoio entusástico da população metropolitana.O golpe é feito para terminar uma guerra sem horizonte,com a democratização e o "desenvolvimento" como complementos. Concordo que a Democracia e a Liberdade são os resultados mais consolidados,e só por isso valeu a pena,apesar de todos os inevitáveis erros.
O "tecido produtivo" não é só da responsabilidade dos governos,mas das pessoas,e parece infelizmente que há uns dois séculos pelo menos que não temos muito jeito para o desenvolver...
A nossa iliteracia vem de trás,tambem,e se comparar pelo menos a científica com outros países(pelos resultados do PISA,por exemplo)verá que outros vão muito bem obrigado. Como hoje é feriado,dê tambem folga às teorias conspiratórias...